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Pés no chão

Por Eduardo Maluf
Atualização:

Alexandre Pato tentava dissimular a tensão, o medo, a preocupação e a pressão pela necessidade de fazer gols, de justificar a fama de artilheiro, de ajudar o Brasil a evitar vexame histórico na Copa América. Mais como atacante trombador, menos como jogador requintado e habilidoso, o paranaense desencantou na competição, marcou duas vezes na base da raça contra o Equador e pôs a seleção nas quartas de final. Fez seu papel e ganhou confiança. Para, quem sabe, atingir em breve o nível de craque, rótulo que tanta gente lhe deu precocemente há cinco anos, mas que na prática nunca foi justificado.Todos nós - imprensa, torcida, comissão técnica, cartolas - cobramos o atleta do Milan como alguém muito acima da média, "diferenciado"" (palavra da moda), quase gênio. Exageramos. Pato nunca chegou a esse degrau na carreira. Nossa empolgação foi resultado de seu início meteórico no Internacional. Em 26 de novembro de 2006, com apenas 17 anos, estreou com atuação notável e gol diante do Palmeiras, no Palestra Itália. No mês seguinte, voltou a balançar a rede e ajudou o time gaúcho a conquistar o Mundial de Clubes.O assunto do esporte naquele fim de ano era Pato, Pato, Pato. Lembro-me de que participava, certa tarde, do programa Arena SporTV. Um repórter levou ao ar declarações de Abel Braga, então técnico do Inter, sobre o atacante. Abel dizia que Pato era o melhor jogador que havia visto nas categorias de base e que seria um "fora de série"" em pouco tempo. Os comentaristas já o tratavam como craque e não apenas promessa."Como, em três jogos no profissional, podemos elegê-lo craque?"", perguntei. Todos usavam como base os comentários de técnicos, dirigentes e companheiros de Pato, além do bom desempenho nos primeiros jogos com a camisa do Colorado. Ele seguiu em Porto Alegre no primeiro semestre de 2007, conquistou a Recopa Sul-Americana e se transferiu para o Milan pouco antes de completar 18 anos. Chegou à Itália com a marca de jovem mais brilhante do futebol e provável candidato a melhor do mundo da Fifa. Mas jamais explodiu. Não resta dúvida de que se trata de um jogador muito bom. Quase cinco anos depois de debutar entre os adultos, porém, não chegou a craque. Aliás, está longe disso. Para se aproximar da condição atingida, por exemplo, por Romário, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, precisa de regularidade, desequilibrar mais jogos e fazer a média de gols crescer, embora ela não seja desprezível. Seu jogo irregular na Copa América é o mesmo do Milan. Às vezes, decide partidas, como anteontem, mas, às vezes, quase nem aparece na televisão, como no empate por 2 a 2 com o Paraguai. A temporada 2010/2011 foi sua melhor na Itália. Marcou 14 gols no Italiano, brilhou no confronto mais importante - o clássico contra a Internazionale, no segundo turno - e conquistou o campeonato nacional, seu primeiro título de expressão na Europa. Seria exagero, no entanto, dizer que tem uma extravagante importância para o clube de Milão como, por exemplo, Messi para o Barcelona, Neymar para o Santos e Rooney para o Manchester United.Em 2008, sua participação na Olimpíada de Pequim foi pífia. Em 2010, nem sequer chegou a ser cotado para compor a seleção de Dunga no Mundial da África do Sul.Tempo para evoluir não lhe falta. Ainda é jovem, 21 anos, parece estar amadurecendo dentro e fora de campo e se mostra mais focado em seus objetivos no futebol. Mas, enquanto não se tornar um craque "de verdade"" (embora seja exercício de futurologia tentar prever se de fato chegará lá), não podemos cobrá-lo como craque. Nem misturar a realidade com a fantasia que criamos em 2006, quando o alçamos a fora do comum de maneira precipitada.Temos, sim, de cobrar dele empenho, movimentação na área, divididas (como a que resultou no terceiro gol contra o Equador) e bom aproveitamento na finalização. Diante do Paraguai, é uma das boas armas do Brasil. Principalmente agora, com a autoestima elevada. Devemos confiar nele. Respeitando seus limites.

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