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Pinheiros, celeiro de astros da piscina

Clube paulistano conta com 60% dos nadadores brasileiros que vão ao Mundial de Roma, entre eles César Cielo e o recordista Felipe França

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Por Amanda Romanelli
Atualização:

Já são 15 anos de jejum. Desde que Gustavo Borges garantiu o bronze nos 100 m livre e o revezamento 4 x 100 m livre também foi 3º no Mundial de Roma, em 1994, o Brasil nunca mais conquistou o pódio no segundo torneio mais importante da natação. O País, entretanto, volta à capital italiana uma geração depois, com um campeão olímpico e um recordista mundial. Em comum, César Cielo e Felipe França não têm apenas as chances de serem medalhistas em outro Mundial de Roma, que será realizado em julho. São também frutos de um trabalho com resultados surpreendentes realizado pelo Pinheiros. Da equipe brasileira que vai à Itália, 60% - ou seja, 16 dos 27 nadadores - defendem o azul, branco e preto pinheirense. À disposição deles, uma boa infraestrutura do clube (que investe R$ 19 milhões anuais no esporte de alto rendimento, embora não revele qual o porcentual destinado à natação) aliada ao trabalho minucioso de uma equipe interdisciplinar. Quando Felipe França se tornou recordista mundial dos 50 m peito no dia 8, durante o Troféu Maria Lenk, seu técnico, Arilson Soares, fez questão de afirmar: a marca de 26s89 era 100% nacional. Treinando no clube paulistano desde 2005, Felipe foi um dos atletas que se beneficiaram da união de treinos especializados e ciência. Mas nem sempre estrutura adequada e capacitação profissional são suficientes para que resultados apareçam. E qual foi a força motriz do Pinheiros? Alberto Silva, o Albertinho, treinador-chefe do clube e da seleção, volta a 2001. "O Pinheiros sempre teve bons resultados. Mas, naquele ano, Gustavo Borges voltava dos EUA. Eu tinha em mãos o maior ídolo da natação do País, no início de um ciclo olímpico. Precisava torná-lo ainda melhor. Fui atrás de conhecimento, de outras áreas." Uma delas foi a biomecânica. Albertinho conheceu Paulo César Marinho, então mestrando na área de treinamento esportivo. O cientista buscava outros horizontes - queria levar o conhecimento acadêmico para a prática. O estudo dos movimentos é utilizado há pelo menos 40 anos nos principais centros da natação. Mas no Brasil, no início do século XXI, era incógnita. "Queria transformar ciência em resultados. Consegui, mas não foi fácil." Gustavo Borges, cobaia daqueles tempos, lembra bem. "Para mim, treinar muito era o caminho. Achava chato fazer os testes." Mas fazia. E, prestes a se aposentar, deixou resultados no computador de Marinho - como mensuração de força e braçadas - que serviriam de base para os treinos de César Cielo. Um legado que ajudou a formar um campeão olímpico. O trabalho com os velocistas do Pinheiros deu ao pesquisador o título de doutor pela Unicamp. E, bem- sucedido, foi adotado pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, que investiu na formação de Marinho. Em 2003, Albertinho assumiu a coordenação do clube. Ali, apostou na mudança de metodologia de trabalho. Delegou funções. Arilson Soares, por exemplo, só trabalha o estilo peito. Marco Veiga, com provas de fundo e meio-fundo. Para Soares, entretanto, fundamental foi o redirecionamento do foco. "Passamos a mirar o mundo." Na Olimpíada de Sydney, em 2000, nenhum nadador do clube esteve nos Jogos. Em Pequim, foram 15 dos 22. Se Gustavo Borges era o exemplo, César Cielo representa a quebra de paradigma. "Ele mostrou que sim, é possível", diz Soares. Para Albertinho, o Mundial de Roma será o grande teste - não só para a equipe brasileira, mas também para o ?método Pinheiros?. "Vamos concluir no Mundial a primeira etapa dessa mentalidade surgida em 2001. É a hora de mostrar mais resultados."

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