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Pobres moços

Por Marcos Caetano
Atualização:

Nossa coluna de hoje tem dois personagens, ambos muito jovens, ambos igualmente desafortunados. O título faz referência a Lupicínio Rodrigues, grande compositor gaúcho, autor de clássicos como "Felicidade", "Nervos de Aço", "Maria Rosa", "Nunca" e "Esses Moços (Pobres Moços)", cujas letras misturam sabedoria e amargura. E, como estamos no caderno de esportes, não podemos esquecer que também é dele o belo hino do Grêmio, que diz: "Até a pé nós iremos..." Mas falemos dos pobres moços e suas tragédias lupicinianas.Rhayner, de 22 anos, vive situação curiosa. Por um lado, tem motivos para celebrar, pois, embora tenha sido contratado pelo atual campeão brasileiro apenas para compor seu forte elenco, que tem atacantes de peso como Fred, Rafael Sóbis e Wellington Nem, acabou caindo nas graças do técnico Abel, que o utilizou em várias partidas do Estadual e até na Libertadores. O treinador não se cansa de elogiar a velocidade e a entrega do novo atacante, que também sabe voltar para ajudar o meio de campo. O lado triste da trajetória de Rhayner é a abstinência de gols: ele não balança as redes há nada menos que dois anos e dois meses, ou 82 jogos.Na última quarta-feira, o Fluminense fazia uma partida tranquila contra o Macaé, vencendo por 3 x 1, quando, aos 33 minutos do segundo tempo, Rhayner fez bela jogada e cavou um pênalti. A torcida não titubeou e pediu em coro para que ele cobrasse e tirasse a uruca.O experiente Sóbis entregou a bola para o azarado companheiro de ataque: "Faz que você está merecendo." Todos no estádio apoiaram a iniciativa, menos Abel. Usando um palavrão, o comandante disse para a comissão técnica que aquilo não ia acabar bem. Dito e feito. Rhayner, que já havia perdido um pênalti na Taça Guanabara, isolou toscamente a cobrança. Pobre moço.Se você acha que a coisa está difícil para o moço Rhayner, espere até ouvir o drama de outro moço, Marcos Vinícius, de apenas 21 anos.Zagueiro que fez boas atuações pelo time B do Palmeiras, ele fez por merecer a promoção para o elenco principal. No entanto, o novato ainda não tinha estreado como profissional. O técnico Gilson Kleina aguardava o melhor momento para lançar o garoto.Para a partida contra o Mirassol, também disputada na última quarta-feira, as contusões dos dois zagueiros titulares precipitaram as coisas: Marcos Vinícius precisou ser relacionado pela primeira vez, no banco, claro, sem perspectiva de entrar no jogo. Foi quando, no vestiário, a instantes do apito inicial, Maurício Ramos teve uma indisposição e foi cortado. E o garoto foi para o jogo.Cheio de vontade, entrou em campo para viver o sonho da estreia, que logo se transformou em pesadelo. Aos 40 segundos (eu disse segundos), o Mirassol, fez um inocente cruzamento. Marcos Vinícius tentou cortar e... gol contra! Eu jamais ouvi falar num jogador que fez gol contra em seu primeiro toque na bola como profissional. Para completar a tragédia, o Palmeiras perdeu por 6 x 2. Não sei se Rhayner e Marcos Vinícius já ouviram as canções de Lupicínio, mas parece que o saudoso mestre escreveu pensando na tristeza deles.

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