Polo aquático se divide e tem dois Campeonatos Brasileiros paralelos

Com a Super Liga Nacional e o Brasil Open, a modalidade terá dois campeões brasileiros esse ano

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Por Demetrio Vecchioli
Atualização:

Não é só no futebol que os clubes do Rio de Janeiro não se entendem. Nesta quarta-feira, o Botafogo recebe a ABDA-Bauru na primeira partida da final da Super Liga Nacional de Polo Aquático. Enquanto isso, Flamengo e Fluminense estão entre os participantes da terceira etapa do Brasil Open, a partir de quinta, no Sesi da Vila Leopoldina, em São Paulo. Em 2016, afinal, o polo aquático terá dois campeões brasileiros.

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A Liga Nacional existe desde 2008 e é organizada pela Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (CBDA), entidade reguladora e gestora do polo aquático no Brasil. O Pinheiros ganhou as três primeiras edições e o Fluminense as seguintes. O Sesi-SP venceu em 2014.

Os três, assim como Flamengo, Paulistano e Paineiras, estão entre os 10 fundadores da Polo Aquático Brasil (PAB), entidade que se espelha na Liga Nacional de Basquete (LNB). Criada no fim do ano passado, ela será oficialmente lançada na próxima sexta-feira, depois de realizar diversas competições, masculinas e femininas, adultas e de base. Nenhuma delas reconhecida pela CBDA.

O racha começou em 2014 e ganhou força em 2015, depois que a CBDA deixou de enviar a seleção brasileira para o Mundial Júnior. Quando a liga foi formada, só ABDA-Bauru e Botafogo não se uniram a ela. O primeiro, base da seleção e campeão da Liga em 2015, se manteve próximo à CBDA. O segundo, projeto de um ex-jogador da seleção húngara radicado em Bauru, preferiu garantir que seus atletas tenham Bolsa Atleta.

A CBDA alega que a PAB quer controlar o polo aquático no País, gerindo inclusive a seleção brasileira. "Eles querem ingerência na CBDA, que os clubes tomem conta da CBDA, claro que isso jamais seria autorizado. A gente não vai abrir mão", diz Ricardo Cabral, responsável pela modalidade dentro da confederação.

A liga nega enfaticamente. "Desde o início buscamos entendimento de que a liga cuidaria do polo nacional e a CBDA ficaria com a parte de seleção", diz George Sanches, presidente da PAB e dirigente do Fluminense. Os dois lados concordam em discordar sobre a organização de torneios de categorias de base: ambos não abrem mão.

Sem a chancela da CBDA perante o Ministério do Esporte, os medalhistas do Brasil Open não terão direito à Bolsa Atleta no ano que vem. E isso fatalmente vai afetar Sesi, Fluminense, Pinheiros e Paulistano, que têm quatro dos cinco elencos mais fortes do País, com jogadores olímpicos.

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A quinta força é o Botafogo, que desde o início do ano mantém um elenco com jogadores como o goleiro Slobodan Soro, medalhista em duas Olimpíadas com a Sérvia, para jogar contra equipes amadoras. Na semana passada, no tradicional Troféu Brasil, o Botafogo entrou direto na semifinal. Fez 25 a 2 no Amazonense e 22 a 4 na final contra a ABDA.

Jogando os dois jogos da final da Super Liga em casa, nesta quarta e no sábado, o Botafogo dificilmente não será campeão nacional, ainda que não tenha jogado contra as equipes mais fortes do País. "A legitimidade está no fato de a competição ser oficial", argumenta Cabral, que organiza os torneios de polo da CBDA com recursos de Lei de Incentivo.

Enquanto isso, a PAB, ainda sem patrocínio, depende da boa vontade dos clubes, que gastam entre R$ 1,5 mil e R$ 2 mil por cada time que disputa cada torneio. A expectativa é que, após a eleição da CBDA, no primeiro trimestre do ano que vem, a liga seja reconhecida. Afinal, são os grandes clubes de São Paulo estão alinhados com Miguel Carlos Cagnoni, presidente da Federação Paulista Aquática (FPA) e candidato de oposição, favorito ao pleito.

Enquanto um entendimento não vem, todo mundo sai perdendo. "Jogamos o ano fora", avalia Cabral. Sanches é um pouco mais otimista. "Diria que jogamos 50% fora, porque aproveitamos muito pouco o boom da Olimpíada, que poderia ajudar em muito a alavancar o polo."