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Por quem Betão chora

Boleiros

Por daniel.piza@grupoestado.com.br
Atualização:

O momento mais interessante do jogo entre São Paulo e Corinthians no Morumbi, domingo, foi o choro do zagueiro Betão logo depois de ter marcado o gol. A partida foi uma chatice, de rotunda mediocridade técnica e tática - o líder com quatro zagueiros e o desafiante com três volantes. Ao contrário do que aconteceu contra o Boca no primeiro jogo, o Internacional e o Flamengo, o São Paulo desta vez jogou melhor do que o adversário. O fato de ter perdido para um time inferior, com 29 pontos a menos na tabela, não mostra que ''''clássico não tem favorito'''', mas que as coisas vão mal no futebol brasileiro. Soberba e cansaço foram adversários mais difíceis do que os alvinegros, que correram bastante sem criar quase nada. O São Paulo é menos medíocre do que os outros, mas, como diz o próprio Muricy, é um time sem craques, exceto o goleiro. Corinthianos têm todo o direito de comemorar a vitória, que se seguiu a um empate contra o Fluminense no Maracanã, e de alimentar esperança de que o time não vá ser rebaixado, até porque terá alguns confrontos diretos entre as oito partidas restantes. É disso que o torcedor vive, afinal. Mas ilusão é outra coisa. A pouco mais de dois anos de completar o centésimo de sua história, a situação do Corinthians é deplorável. O clube tenta encerrar a era Dualib-Kia, uma parceria sobre a qual não faltaram alertas de que sairia caro a médio prazo. Tem um elenco fraco e, mesmo com o campeonato de pontos corridos, ainda não compreendeu a importância de planejar e profissionalizar. É tocado com amadorismo proporcional à dimensão de sua torcida. No próximo sábado, celebram-se os 30 anos de sua conquista do Paulistão, um evento que, além de acabar com o jejum de 23 anos, aumentou ou confirmou a adesão de muitos torcedores infanto-juvenis - até porque pouco tempo depois o clube viveria a época da democracia de Sócrates e companhia. E era Paulistão mesmo: foram nada menos que 48 jogos (30 vitórias, 6 empates e 12 derrotas; 72 gols pró e 38 contra). Também era um time sem grandes craques, com boa defesa - especialmente os laterais Wladimir e Zé Maria -, um bom meia, Palhinha (que não participou da final), e muita garra. O artilheiro, com 23 gols, foi Geraldão. O placar foi magro, 1 x 0 sobre a Ponte Preta, e o gol dramático, com Basílio fuzilando a rede depois das tentativas de Wladimir e Vaguinho. O presidente era o folclórico Vicente Matheus. O que mudou, então? Mudaram os tempos e mudaram as vontades, como diria o poeta. Hoje os jogadores bons ou nem tão bons vão para o exterior, e os cartolas e empresários ganham muito, mas muito dinheiro com isso. O Campeonato Paulista virou pré-temporada do Brasileiro; este é que importa. Os laterais viraram alas, e os grandes meias ou atacantes de habilidade sumiram ou são caçados em campo, além de protagonizar novelas jurídicas como a recente de Thiago Neves no Fluminense. Técnicos vão e voltam. A torcida, resignada, passa a festejar fim de tabus alardeados pela imprensa e a perspectiva de fugir do rebaixamento. Um atleta identificado com ela, com seus cantos de orgulho e amor, tenta ir para a Europa, mas é rejeitado por ser considerado muito baixo (1m78) para a posição. E os gols são marcados por beques como ele, em cobranças de falta e com dúvidas sobre impedimento. Não pergunte por quem Betão chora, leitor; ele chora por todos nós.

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