Pressão psicológica prejudica atletas

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Por Agencia Estado
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Pelo menos 30% dos atletas brasileiros tendem a sofrer com ansiedade pré-competitiva e tensão. Alguns chegam mesmo ter depressão, diante das diversas formas de pressão e de cobrança. Esses resultados são de estatísticas feitas por pesquisadores do Instituto Orpus, de São Paulo, envolvendo mil atletas de vários esportes, incluindo futebol, sob a coordenação de Regina Brandão, doutora em Psicologia Esportiva. Assim, dos 248 inscritos para a Olimpíada de Atenas, pelo menos 72 deles teriam chance de apresentar sintomas que vão dos olhos arregalados na entrada da competição, passando por insônia e falta de apetite, até vômito. E provavelmente boa parte deles deve ter procurado apoio com Dietmar Samulski, o psicólogo trazido pelo Comitê Olímpico Brasileiro. "A cobrança de medalha, a pressão sobre os atletas, por parte dos outros ou deles mesmos, sempre gera estresse para a hora da competição. Chamamos de ´sofrimento psicológico competitivo´: é quando o atleta percebe que pode ter barreiras para atingir seus objetivos, uma percepção de ameaça. Ele se sente impotente diante dessa ameaça. E a tensão emocional muito alta prejudica seu desempenho", explica a psicóloga. Essas reações emocionais de raiva, ansiedade, medo, incerteza, agem sobre o físico. Regina cita o judô, em que minutos podem equivaler a perder uma chance de uma vida inteira. Perder é frustrante, depois de quatro anos de muito trabalho. E o pior é não ter mais chance, não ter como recuperar. "Esse sofrimento é muito forte, similar ao de doentes terminais. É como uma ameaça à integridade pessoal." E essas reações emocionais negativas alteram hábitos de sono (Flávio Canto, bronze no judô, diz que não dormiu na véspera da luta, o que não acontecia há pelo menos cinco anos), de alimentação. Apareciam visivelmente como no caso da ginasta Daiane dos Santos, na imagem pouco antes de sua primeira apresentação, mostrando ansiedade, medo até de não conseguir classificar-se entre as oito finalistas do solo. Ou na preservação do joelho direito operado, com saídas ruins. Para se afastar da pressão, o cavaleiro Rodrigo Pessoa - que carregou a última chance de ouro do Brasil na Olimpíada de Sydney/2000, com refugo do cavalo ´Baloubet´ -, desta vez optou por alugar uma casa fora da Vila Olímpica, próxima do local de competição (e Markopoulo é longe de tudo), chegando também em cima da hora. "Acho que perde um pouco da característica, porque na Vila Olímpica todos ficam na mesma situação estressante da ´hora do vamos ver´. Mas se ele se sente melhor assim, e pode pagar por isso, é uma providência boa." ?Pulga? - Regina Brandão acompanhou Guga Kuerten pela tevê e percebeu as atitudes do tenista em quadra se estapeando, atirando raquete, mostrando-se grosseiro. "É muito sofrido o corpo não responder. Esse limite físico, de não ter mais velocidade para correr atrás da bolinha, não ter a mesma agilidade, não ter o controle disso, gera atitudes até de fúria." Existem técnicas até emergenciais para aliviar esse estresse, que utilizam relaxamento, hipnose e formas de "apagar" situações negativas como as usadas mesmo para casos pós-traumáticos, como de seqüestros-relâmpago. Muito psicólogo do esporte, brinca Regina, gostaria de ser "uma pulga grega" para observar o que se passa na Vila Olímpica e estudar técnicas para aliviar essa imensa pressão sobre os atletas, que muitas vezes resulta no chamado "amarelão".

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