Primeira medalha olímpica da vela brasileira completa 50 anos

Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad ganharam o bronze nos Jogos da Cidade do México em 1968

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Por Gonçalo Junior
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A conquista da primeira medalha olímpica da vela brasileira está completando 50 anos. Nos Jogos da Cidade do México, em outubro de 1968, Burkhard Cordes e Reinaldo Conrad ganharam o bronze na classe Flying Dutchman. “Eu me sinto muito orgulhoso. Afinal de contas, depois de 50 anos a medalha ainda está sendo lembrada”, disse Cordes, hoje com 79 anos, em entrevista ao Estado. Aos 77 anos, Reinaldo mora atualmente nas Bahamas e não foi localizado pela reportagem. 

Burkhard Cordes, ex-velejador que ganhou medalha de bronze em 1968, a primeira medalha da vela brasileira Foto: Felipe Rau/Estadão

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A medalha foi, na verdade, pioneira. A classe Flying Dutchman já não faz mais parte do programa olímpico. Mas o resultado abriu caminho para outros 18 pódios da vela brasileira, que é a segunda modalidade que mais ouros olímpicos ganhou para o Brasil: são sete. 

A conquista inédita foi importante também para criar os pilares da preparação dos velejadores brasileiros. A partir de 1968, foram criados os protocolos de condicionamento físico, a importância dos cuidados com a alimentação e aclimatação nos locais de disputa e até a formação da equipe técnica, com a presença de um auxiliar técnico. 

O esporte, naturalmente, era outro. Os velejadores não se dedicavam unicamente à modalidade. Cordes era engenheiro e trabalhava de segunda a sexta-feira. Os patrocínios – da iniciativa privada ou da esfera pública – eram proibidos. Para treinar, eles sacrificavam o tempo com a família. Durante anos, os dois treinaram sozinhos.

As atividades eram realizadas na represa de Guarapiranga, reservatório para abastecimento de água da cidade de São Paulo. Até hoje, ela recebe esportes náuticos e atividades de lazer ao longo de seus 28 quilômetros de margens. Existem vários clubes de iatismo no seu entorno. Naquela época também, os principais centros de vela eram São Paulo, Porto Alegre e Rio de Janeiro. E nada mais. 

Dominada predominantemente por ventos médios e fracos, Guarapiranga se tornou aliada da conquista histórica. Foram exatamente essas as condições climáticas que a dupla brasileira encontrou em Acapulco, onde foram disputadas as regatas. “Estávamos acostumados com ventos assim. Tínhamos dificuldades com ventos fortes”, diz o herói olímpico. 

A disputa da classe Flying Dutchman teve sete regatas. Os britânicos Rodney Pattisson e Lain MacDonald dominaram a competição, ganhando cinco provas e ficando com o ouro (3 pontos perdidos). Porém, a última regata foi vencida pelos brasileiros, que assim garantiram o bronze, com 48,4 pontos perdidos. A prata acabou com os alemães Ullrich Libor e Peter Naumann (43,7 pontos perdidos).

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Antes da disputa, Cordes se recorda de que estava com inchaço no joelho que limitava seus movimentos. Ele precisou ser atendido por médicos suíços e franceses, pois a equipe brasileira estava toda concentrada na Cidade do México e não chegaria a tempo a Acapulco. “Todos se conheciam. Eles me ajudaram bastante”, recorda. “A gente sabia que podia conquistar um grande resultado. Um ano antes, no Mundial de 1967, nós tínhamos conseguido o quarto lugar. E eram os mesmos competidores”, conta. 

Depois de Cordes e Conrad, vieram nomes que também se tornaram importantes no cenário olímpico. Os mais famosos são Torben Grael, Lars Grael e Robert Scheidt. “A gente não tinha ideia de que seríamos tão competitivos a partir dali”, diz. 

O feito histórico da dupla caminha paralelamente a uma realização pessoal. Burkhard Cordes é filho de Otto Cordes, atleta alemão que foi ouro e prata nos Jogos Olímpicos de 1928 e 1932 no polo aquático. Com isso, a família completou a trilogia olímpica. O pai foi ouro e prata; o filho, bronze. As três medalhas ocupam lugar de honra na casa do antigo velejador. Elas estão guardadas todas juntas e tornam ainda mais especial a sala de estar do primeiro herói olímpico da vela brasileira.

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