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Propaganda é a alma do negócio?

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Por José Roberto Malia
Atualização:

Uma conceituada agência publicitária tem como regra criar ideias que gerem demanda para os produtos, adotando palavras de ordem como "engajar, dialogar e entreter". Traduzindo: a propaganda é a alma do negócio. Menos no futebol, mais precisamente no Campeonato Paulista. Desde o pontapé inicial, com uma maratona inacreditável de 190 partidas para se chegar ao que poucos duvidavam (Palmeiras, São Paulo, Corinthians e Santos nas semifinais), nossos sábios de colarinho branco e chuteiras puídas fizeram de tudo para colocar água no chope e/ou roubar a cereja do bolo da bola. E agora soltam fogos pelo dever cumprido. Enquanto as semifinais da Taça Rio, o pomposo nome adotado para o segundo turno do Campeonato Carioca, atraíram mais de 150 mil torcedores ao Maracanã, os pagantes não chegaram a um terço na Pauliceia desvairada - de acordo com os números da FPF, Santos x Palmeiras, na Vila Belmiro, e Corinthians x São Paulo, no Pacaembu, seduziram 48.611 espectadores no total. Neste domingo, São Paulo e Corinthians voltam a campo para disputar a segunda e decisiva partida das semifinais em um estádio que hoje em dia comporta 68 mil pessoas. Mas o verdadeiro corintiano, aquele que realmente ama o clube, não poderá chorar de alegria ou tristeza no Morumbi. Ele terá de se contentar com uma poltrona em frente à televisão no meio da tarde - se o bolso permitir, poderá curtir uma loira gelada e uma pipoca de micro-ondas. Depois de 90 minutos, aí poderá extravasar a felicidade ou a amargura. Basta procurar por um "inimigo" no telefone celular. Um triste ritual que, diga-se de passagem, já foi cumprido pelos autênticos são-paulinos há uma semana, quando as equipes se enfrentaram no Paulo Machado de Carvalho para aquele que deveria ser um encontro democrático. Ledo engano. Pois é, se não bastasse a cobiçada situação financeira dos clubes brasileiros, edificada sobre cofres que permitem conservar um craque-fraldinha até os 16 anos, entramos na fantástica era de uma torcida só. Graças à incrível competência dos incompetentes que administram a bola furada deste país varonil, com o apoio de autoridades sem a mínima autoridade para oferecer um resquício de segurança, o futebol deixou a cortina do espetáculo para mergulhar numa guerra. Virou sinônimo de paixão sem um pingo de razão, um autêntico amor bandido. Não satisfeitos, porém, em referendar a absoluta incapacidade para transformar em Paulistinha o que já foi um autêntico Paulistão, um saudoso barato de pai são-paulino para filho corintiano, de avô palmeirense para neto santista, os supimpas cartolas ainda resolvem destinar os 10% dos ingressos ao adversário para os delinquentes travestidos de torcedores organizados. Depois de seis anos, tricolores e alvinegros voltam a se enfrentar por um "mata-mata" de olho numa vaga à final do campeonato. O Corinthians não comemora um caneco desde 2003, mas defende um tabu de cinco jogos sem derrota para o rival. Está invicto. Tem Ronaldo, o ?Fenômeno?. O São Paulo é o "papa-caneco" da atualidade. Como se vê, ingredientes não faltam para rechear o bolo da bola. Mas a sonhada cereja foi roubada. Não há mais o que discutir: a gente somos inútil. * Jornalista e editor especial dos canais ESPN

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