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Quanto vale um homem?

Boleiros

Por Antero Greco e antero.greco@grupoestado.com.br
Atualização:

Você quer ser bem-sucedido, rico, famoso? Deseja ser recebido como vip por onde passa? Almeja ser paparicado e tratado a pão-de-ló? E, sobretudo, se imagina com o burro na sombra na aposentadoria? Se já se flagrou alguma vez pensando nessas dádivas da vida, não considere que esteja a incorrer no pecado da soberba. (Ou seria outro? Não sei, pois esqueci as lições de religião da época de colégio.) É normal que as pessoas, de um jeito ou outro, queiram viver bem. Nada mais justo do que mirar em carreira de sucesso. Não se condena ninguém pela pretensão de receber mais por seu trabalho. São sentimentos que, bem administrados, encorajam e dão prazer. Feitas essas observações que parecem resumo de manual de autoajuda (feio sem hífen, né?), digo que não vou atirar a primeira pedra em Kaká, caso venha a aceitar a oferta estratosférica que lhe foi apresentada para trocar o Milan pelo Manchester City. Balança o coreto de qualquer um a possibilidade de receber mais de R$ 50 milhões por ano, fora prêmios, condecorações, casa, comida, roupa lavada, troféus, convite para festas de debutantes e o diabo a quatro. Se tiver cabeça, faz pé-de-meia suficientemente generoso para aquecer várias gerações. Os bisnetos vão agradecer. Kaká está a ponto de viver o sonho de milhões de mortais que suam a camisa por um sanduíche de mortadela, uma tubaína e a fezinha em loterias. Ótimo. Mesmo assim, cabem algumas considerações. Até um tempo atrás, tanto jogador como o Milan afirmavam que a união seria eterna - entendida como duradoura parceria de trabalho. Quando o Real Madrid estendeu seu manto para o jovem brasileiro, a tropa de choque de Silvio Berlusconi fez cara de profunda indignação. Reação idêntica os auxiliares do cartola e político que comanda a Itália tiveram quando o Chelsea se mostrou interessado em despejar caminhão de dinheiro semelhante ao do City. Na ocasião, o máximo que os representantes do bilionário russo Roman Abramovich conseguiram foram refeições de primeira em restaurantes milaneses. Voltaram para Londres de mãos abanando e estômago cheio. Kaká, então, era intocável, na avaliação do patrão, como inabalável era a convicção de que seu futuro estava em Milão. Paira no ar, agora, a sensação de que os ventos mudaram. Assim que a investida do City se tornou pública, o staff do Milan arregalou os olhos e disse que, "bem, sabe como é, se o atleta quiser, pode conversar..." Ou seja, insinuou que desta vez não vai fazer onda. Ao contrário, até dá um empurrãozinho, mesmo discreto, para que a transação se torne realidade. Kaká voltou a declarar que pretende envelhecer no Milan, se assim também o desejarem seus superiores. Está bem, em casa, enturmado, etc e tal. De qualquer forma, por meio de porta-vozes, deixa porta aberta para contatos e fala que eventual transferência ocorrerá só se houver um "projeto" sério. Não tenho nada a ver com isso, sou mero observador e fico à vontade para dizer que não acredito nessa história de projeto; se for, é por dinheiro. Jogadores como Kaká merecem times como Milan, Juventus, Inter, Real, Barcelona, Manchester United. Mesmo que ganhem um pouco menos, estão em clubes à sua altura, com "camisa". Mas sei da sedução de xeques poderosos que nadam em dinheiro como tio Patinhas na caixa-forte. Esses acham que todo homem tem seu preço. E poucas vezes se enganam.

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