PUBLICIDADE

Publicidade

Quebra de mais recordes aumenta desconfiança com traje

Americanos discutem a validade do LZR Racer, que para uns é doping, para outros uma evolução científica

Por Karen Crouse
Atualização:

Um homem passeia ao redor do Complexo Aquático Spieker em Berkeley, Califórnia (EUA), na quarta onde a equipe de natação californiana está treinando. Ele está acompanhando quatro crianças num passeio pelo campus. "Quando vocês começam a temporada?", pergunta o técnico dos Bears Teri McKeever, que disse a ele sobre a sessão que já tinha terminado. Ele fez silêncio por um momento, pensou, "com aqueles trajes Laser?". Veja também:  Mais cinco recordes são quebrados no Mundial de natação  Técnico dos EUA defende traje e prevê novos recordes  Nadadores italianos reclamam de macacão LZR Racer  Entenda como funciona o macacão LZR Racer  Vote: o macacão deve ser considerado como doping? O maiô Speedo LZR Racer, desenvolvido em conjunto com a Nasa, evita o encharcamento e é uma bala de canhão na consciência das pessoas que não sabem como é o nado de um Flipper [em alusão ao golfinho estrela de televisão]. Desde que o macacão passou a ser utilizado em fevereiro, nadadores com ele conseguiram quebrar 22 de 23 recordes mundiais. "Ele está superando as expectativas", diz Stu Isaac, vice-presidente sênior de vendas e marketing da Speedo. Dara Torres, nadadora que tenta conseguir pela quinta vez uma vaga no time olímpico dos Estados Unidos treina em Omaha neste verão, disse que o traje lhe ajudou a atravessar a água "funciona como uma faca na manteiga." Torres fala como se fosse porta-voz da Speedo. A seqüência de recordes quebrados e os vários testemunhais de que aquilo tem ajudado estão criando muita controvérsia. A tecnologia de leveza de hoje dos maiôs estão agitando os puristas que nunca procuraram ver a natação como algo que precisa de equipamentos como o golfe ou o tênis. Existem muitas críticas de como o desenho do LZR se ajusta ao corpo e que isto seria a central nervosa do sistema e o caminho para ótimos resultados, mas não é. Outros itens secretos são aquilo que abrem novos caminhos na performance da natação para um degrau acima daquela que consideramos performance ideal. Um técnico, que trabalhou firme para vários medalhistas olímpicos de ouro, descreve o maiô como "droga no cabide". O técnico não quer se identificar porque muitos de seus nadadores são patrocinados pela Speedo. O técnico da seleção italiana Alberto Castagnetti disse recentemente à agência Associated Press que o macacão Speedo LZR Racer é um "doping tecnológico". Janson Rance, que comanda a divisão de desenvolvimento e pesquisa global da Speedo, diz que tudo está dentro das normas da Fina, a associação que comanda o esporte internacionalmente. A diferença que se encontra entre este e os modelos anteriores, ele diz, é que o LZR Racer causa menos arrasto. Ele não concorda com a crítica de que o LZR Racer é desenvolvido de forma a camuflar o trabalho pesado dos nadadores e que faltaria uma forma de compensar esse ganho. Os créditos pelo trabalho estão aparecendo com os recordes que os nadadores estão quebrando, Rance fala, não nestes termos. "Na última vez que avaliamos na piscina o traje, os tempos não foram muito diferentes", ele diz. A Speedo não é a única fabricante a trabalhar em esporte e ciência. A TYR Sport, que competiu em 1972 com o medalhista olímpico de bronze Steve Furniss, tinha investido milhões de dólares no perfeito e top de linha traje de corrida, o Tracer Light. A americana Mary DeScenza vestiu este traje no Campeonato Mundial de piscina curta da Fina em Manchester, na Inglaterra, onde ela quebrou o recorde de 27 anos da americana Mary T. Meagher nos 200 m borboleta. Até o encontro de todos, Doug Van Wie também vestiu o TYR e ele ajudou os Estados Unidos a garantir o recorde mundial dos 4 x 100 m livres. Os outros membros do time - Ryan Lochte, Bryan Lundquist e Nathan Adrian - estavam nadando com o LZR Racer. Num ano olímpico, os tempos rápidos chegaram cedo. Frenesi como o daquele 1972, anos depois da Lycra ter recriado a natação os maiôs com náilon e vestidos como tubarões na primeira revolução da natação na era moderna, quando existiam 53 recordes mundiais. Quatro anos depois, 61 recordes haviam sido quebrados. O presidente da FINA, Mustapha Larfaoui disse neste mês que havia sido avisado de que muitos recordes mundiais seria quebrados. A tecnologia da costura laser não foi explicada a ele. O que está sendo fabricado tem garantia de estar à disposição para avaliação por todos os competidores, como exigem as regras da Fina. O único problema ocorreu na Nova Zelândia em uma recente eliminatória olímpica, quando nem todos os países da elite tiveram acesso ao LZR Racer porque não foram patrocinadores do evento e mandaram um número limitado de trajes. O Canadá, cujo time é patrocinado pela Speedo, adota a precaução para suas eliminatórias de não permitir o traje quando todos não o utilizam justamente para evitar controvérsias quanto aos resultados. "É um incômodo quando alguém vai a uma eliminatória olímpica e tem desvantagem porque não estava usando o traje", diz Isaac. Ele diz ter planejado distribuir cerca de 3 mil trajes para avaliação de cerca de 1.300 competidores nas provas americanas. Uma evidente ajuda a Kicker Vencill, que tinha se classificado para a prova nos 50 e 100 m livres. Vencill não tem um patrocinador na natação; seu técnico, Dave Salo, tem afinidade com a Speedo. Ele competiu com o traje LZR Racer que lhe foi emprestado no último final de semana. "Eu não sei qual é o nome disso", disse Vencill em Los Angeles, onde ele treina no Trojan Aquatics. "Eu só sei que procuro ter outro de novo." Ele inclui: "Eu acho que as pessoas sentiram pânico. Eu ouvi pessoas dizerem que iriam quebrar os contratos que tinham com outras companhias para ter o traje da Speedo." Num ano olímpico, os nadadores com sorte estão chamando a atenção, competições são um centro de merchandising e isto ajuda a vários atletas. "O grande ponto da escalada sobre o debate do traje é que ele é uma forte guerra de marketing", escreveu um jornalista. Seu nome é Leo Zainea, e suas palavras são lidas no Chicago Tribune desde maio de 1974, onde provavelmente teve de repetir muitas vezes o assunto, e mais vezes ainda desta conversa terá de falar.  

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.