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Recado do Santos aos concorrentes

Time de Muricy Ramalho, com erro grosseiro da arbitragem, derrota o Corinthians no clássico e promete revirar a tabela no segundo turno do Nacional

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Por Gonçalo Junior
Atualização:

O canto da torcida santista soou forte após a vitória sobre o Corinthians, por 3 a 2, na Vila Belmiro. Ele trazia um recado em alto e bom som: o time da Vila Belmiro promete colocar a tabela do Campeonato Brasileiro de pernas pro ar no segundo turno. As vozes, no entanto, foram abafadas por uma nota dissonante: o erro crasso do auxiliar Emerson Augusto de Carvalho, que não assinalou três impedimentos no mesmo lance, no segundo gol da equipe santista, aos 3 minutos da etapa final, quando a partida estava empatada por 1 a 1. Com a vitória - a centésima partida de Muricy Ramalho no comando da equipe -, o Santos acumula quatro jogos sem derrota e chega aos 23 pontos no 12.º lugar. Mais que os três pontos na tabela, a vitória de ontem garantiu mais uns 200 em orgulho, autoestima e energia. Isso porque o adversário não perdia havia nove jogos e ostenta a coroa de campeão da América. A partida de alto nível técnico, com variações, belos lances individuais, fez jus à tradição meio mística, meio mágica do clássico que vai completar 100 anos. A expectativa do clássico oferecia uma passagem com destino certo: Santos com o leme e o Corinthians esperando um erro para dar o bote. Esse roteiro havia sido escrito dois meses antes, quando o time da capital matou o do litoral nas semifinais da Libertadores. Ontem, com a sua força multiplicada por cem com Neymar e Ganso, o Santos queria uma espécie de vingança diante do todo-poderoso Corinthians, que transformou o Brasileiro em uma preparação de luxo para o Mundial de Clubes. Como em todo bom jogo, no entanto, os roteiros mudaram. Embora tivesse quatro desfalques (Chicão, Alessandro, Jorge Henrique e Emerson), o Corinthians voltou a ser aquele exército coeso do torneio sul-americano em que os 11 jogadores parecem pensar com uma cabeça só. Time que estufa o peito e faz seu jogo em qualquer estádio. Assim, achou o mapa da mina nos primeiros ataques: cavoucar as brechas deixadas pelo apoio do lateral Bruno Peres. Quase encontrou o ouro em dois lances idênticos: Romarinho chutou cruzado e Rafael triscou com a ponta dos dedos aos 7 e aos 18. A estratégia santista era mais elaborada ao promover um rodízio constante entre os vértices do novo quadrado do meio - Arouca, Patito, Neymar e Ganso. Está nascendo - ainda embrionário - um novo quarteto interessante. Jeito enjoado de jogar, mas que produziu pouco barulho: Cássio quase não foi exigido. A reconstrução santista após o vendaval da Olimpíada não pode ser conduzida apenas do meio para frente, com aquele quarteto. O tempo urge para a zaga santista. Isso ficou claro no lance do primeiro gol corintiano. Douglas bateu falta e Danilo cabeceou, de costas e desequilibrado, para abrir o placar. Durval chegou atrasado e Bruno Rodrigo nem apareceu na foto. Mortal. Não há prancheta que derrube um talento. Aos 36, Neymar arrancou do meio, deixou três corintianos falando sozinhos e cruzou para André fazer o 100.º gol dos santistas na temporada. Lance em que a jogada foi tão importante quanto o tento: o moleque que habita o corpo do craque Neymar ameaçou duas vezes antes de invadir a área em uma jogada simples e, por isso, genial e imprevisível. A diferença do jogo esteve relacionada ao estado de espírito. O Santos foi mais elétrico, com maior elã. A alma corintiana pediu água no início do segundo tempo e deixou o corpo à míngua. Nesse momento, o Santos fez o segundo gol e o olhar eletrônico das câmeras de TV condenou a visão do auxiliar Emerson Augusto de Carvalho, identificando três impedimentos na jogada. Meio sem jeito com a irregularidade, o time santista recuou e foi castigado pelo talento do argentino Martínez, que empatou em bela jogada individualQuatro minutos depois, o zagueiro Bruno Rodrigo, o mesmo que havia sido entortado no empate corintiano, subiu sozinho e revelou um lado artístico que ele nem sabia que tinha: fez o terceiro gol e virou o regente de um coro de 12 mil santistas.

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