Scheidt, um grande campeão do esporte

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Por Agencia Estado
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O iatista Robert Scheidt mostrou que ?manda? na classe Laser e voltou ao Brasil, na sexta-feira, ainda mais favorito à medalha de ouro olímpica nos Jogos de Atenas, em agosto, depois de ganhar o heptacampeonato mundial na Turquia. E vai ter de aguentar a pressão. Na Turquia, o brasileiro ganhou o seu sétimo título de campeão mundial das últimas nove edições disputadas ? foi vice-campeão nas outras duas. Também tem a medalha de ouro olímpica de Atlanta (1996) ? a viseira verde usada nos Jogos ainda o acompanha nas competições importantes ? e a de prata de Sydney (2000). Robert Scheidt passou o fim de semana em São Paulo descansando e conversa com a imprensa, nesta segunda-feira, para contar como foi a conquista do heptacampeonato mundial e o que mais ainda espera de uma carreira que já tem 22 anos e 107 títulos. Começou aos 9 anos, na classe Optimist e ganhou impulso aos 17, quando venceu o Mundial Juvenil da Escócia (1991). Certamente quer ir ao pódio em Atenas, pelo menos isso ainda, na classe Laser, antes de decidir o futuro. O paulistano, nascido sob o signo de áries, em 14 de abril de 1973, administrador de empresas, gosta do rock das bandas Rolling Stones e U2, de cinema, festas, tênis, mountain bike e de Ilhabela, seu refúgio e local de treino preferido, é velejador na essência. O sangue viking vem do avô materno, um sueco que pertenceu a confraria dos velejadores que contornaram o Cabo Horn a bordo de um dos velozes Clippers ? e sobreviveram. Do pai, herdou o prazer de velejar. Fritz e sua mulher, Karin, competiram na classe Day Sailor tendo o filho, aos 6 anos, na proa. Fritz aprendeu a velejar com o vizinho, Jorge Bruder, três vezes campeão mundial da classe Finn, e com amigos do Yatch Club de Santo Amaro. Apresentou o esporte ao filho, mas não imaginou que ele fosse ser tão persistente. Scheidt está na fase final de sua preparação para os Jogos Olímpicos. Sua programação ainda inclui a disputa da Match Race Brasil (barco contra barco), de vela oceânica, no fim de semana de 5 e 6 de junho, em Búzio, treinos em Ilhabela, e a disputa do campeonato grego, no fim de junho, buscando mais "intimidade" com a raia olímpica. Conheça um pouco mais do grande campeão Robert Scheidt, por suas próprias palavras. Obstinação ? Igualar o bicampeonato olímpico de Adhemar Ferreira da Silva não é prioridade. O esporte não é ser o melhor, é ser e estar melhor. O Real Madrid é, mas não conseguiu ser o campeão espanhol. Tenho de chegar a Atenas no meu melhor momento e não deixar nenhum tipo de pressão atrapalhar. Pressão ? Ganhei em Atlanta, em 1996. Perdi em Sydney, em 2000, e foi muito frustrante. Hoje eu sou um tio da classe Laser, sei disso, tenho a experiência a meu favor. E também estou muito bem fisicamente, aos 31 anos, até melhor do que em temporadas anteriores. E sempre me dei bem nessa situação de pressão. Espero, inclusive, que eu saiba usar essa experiência de ter perdido e ter ganho. É complicado, eu sei. Cheguei em um nível em que tudo o que não é ouro, não serve. Mas um dia eu não vou ganhar. Tenho de aproveitar todos os momentos de vitória, mas estar preparado para perder. Para a Olimpíada, a minha meta é pódio. Mesmo com um bronze... podem falar o que for... Se for ao pódio vou voltar realizado. Ouros certos ? Atualmente eu e a Daiane (a ginasta Daiane dos Santos, uma das favoritas no solo) somos apontados como ouro certo. Cada um reage de uma forma diferente diante da pressão. Um dia antes de uma prova importante tenho o sono leve... Mas quando entro na água penso somente na velejada. Quando passo pelo portão da marina deixo tudo o mais do lado de fora. Sempre tento dividir bem, para o treino, o patrocinador, a mídia, o namoro... para que a minha vida siga dentro de uma normalidade e não haja uma ênfase muito grande em nenhum aspecto... Tento velejar como se fosse velejar na Guarapiranga. Tento até simular situações de pressão. Mas acho que se a situação ficar muito grave o atleta deve procurar ajuda de um psicólogo. Meu conselho para a Daiane seria dividir muito bem o tempo dela. Sempre vai haver um nível de ansiedade com o qual o atleta tem de trabalhar, mas ele não deve pensar em Olimpíada 24 horas por dia. Reconhecimento ? As pessoas falam ´você tem sete títulos mundiais, duas medalhas olímpicas (o dobro de títulos do que ganhou o segundo melhor de todos os tempos na classe, o australiano Michael Blackburn), 107 títulos, mas não tem o reconhecimento dos torcedores, não é reconhecido como o Guga ou o Ronaldinho.? As pessoas ligam a tevê em Pan-Americano e em Olimpíada e só aí conseguem ver os velejadores. Nossa prova é longe da costa, longe dos olhos do público, com tevê apenas nesse tipo de competição... Eu busco títulos pelo prazer que sinto em velejar. Não velejo por dinheiro ou por reconhecimento, apenas. Meu ego se satisfaz com os desafios e as vitórias. Manter-se no topo ? Bem mais difícil que ganhar título, é defender título. Não gosto de perder, mas um atleta tem de passar uma borracha no passado. Entrar em cada prova pensando nela. Achar que pode ganhar tem de achar sempre. Sei que a Olimpíada vai ser difícil, pedreira, mas quero ter dois ouros. Futebol fora ? É um pena não termos a seleção de futebol em Atenas, uma medalha a menos para o Brasil. Por outro lado, o futebol está na mídia todo dia. Sem o futebol, a atenção vai estar mais voltada a outros esportes. A raia de Atenas ? Bem complicada. Vai estar muito quente. O vento tem dificuldade para entrar naquela raia, que fica numa espécie de bolha. Receita para ganhar ? Não há. Mas a regularidade será fundamental nas 11 regatas, em seis dias, com dois de intervalo, e um descarte apenas. Será o campeonato da regularidade e um iatista que estiver sempre entre o 5º e o 8º colocados em todas as regatas pode levar a medalha de ouro. Achar que posso ganhar o ouro tenho de achar. Eu posso. Mas vai ser difícil, e medalha ninguém ganha por antecipação. Planejamento ? A preparação para Atenas já começou há muito tempo. Agora é a fase final. Foram cinco competições, no início do ano, a vitória da Semana de Hyères, e o título do campeonato Mundial. Em relação ao Mundial a Olimpíada é um torneio de maior pressão e com uma raia muito difícil. Os rivais ? Tem o Michael Blackburn (australiano), o português Gustavo Lima, o inglês Paul Goodison, e também o polonês, finlandês, norueguês, sueco, sul-africano, norte-americano... Nossa, quantos! Acho que são uns dez. E na Laser, em que a renovação é muito grande, sempre pode ocorrer alguma surpresa. Mundial no Brasil ? Acho que ainda vou velejar de Laser. Pan de 2007, no Rio ? O meu plano é mudar, após a Olimpíada, quando serão definidas as classes para os próximos Jogos, mas sinto muito prazer em velejar com esse barco... Vela Oceânica? Esse ano só no Match Race ou no segundo semestre. Amor pela classe ? O barco é igual para todo mundo. É mais prático. O meu desafio será aprender sobre regulagem de mastro, de velas. Provavelmente, quando mudar, não vou conseguir a mesma performance. Mas, com a idade, fica difícil manter-se na Laser, uma classe que exige muito do corpo, do físico. Classe Star ? Ainda não é cem por cento certo que eu opte pela Star visando 2008. Ídolo ? O ídolo pode ajudar no desenvolvimento do esporte. Hoje a vela já tem ídolo e consegue atuar com uma organização mínima. Podemos contar com uma base na Europa, onde estão os barcos, as viagens são pagas, o que nunca houve antes. Mas a iniciativa privada, os patrocinadores, querem retorno e acabam tendo interesse em investir no ídolo, no alto nível. Para o desenvolvimento do esporte é preciso cuidar da base.

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