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Seleção natural

Por Wagner Vilaron
Atualização:

O futebol brasileiro passa por momento histórico de reestruturação. Mas, por ser lento, ainda não contou com a devida atenção. E não se trata de conquistas dentro do campo. Trata-se de mudança no conceito e, principalmente, no perfil de seus dirigentes. No caso dos grandes clubes, presenciamos o início do fim daquele estilo "presidente centralizador", que se acha o dono do clube, único entendido no assunto e se cerca de bajuladores que, para manter a carteirinha de diretor - e o prestígio do cargo -, falam o que o chefe quer ouvir, mesmo cientes de que aquilo não é o melhor para o clube. Ok, até imagino o que parte dos leitores deve pensar neste momento. Algo do tipo: "Pô, Vilaron, que papo chato essa história de gestão logo agora, com Libertadores e Copa do Brasil pegando fogo!"É verdade, mas ocorre que a condição de jornalista nos coloca em contato direto com aqueles que fazem o esporte, sejam atletas, técnicos ou dirigentes. Por isso, de vez em quando gosto de compartilhar com os que têm a paciência de acompanhar semanalmente esta coluna alguns destes encontros, bate-papos, enfim, momentos a que poucos têm acesso. Invariavelmente há uma informação curiosa que nos auxilia a entender peculiaridades deste meio.Nesta semana tive a oportunidade de trocar ideias com representantes do Ministério do Esporte e com um dos consultores da Fifa que acompanham as obras dos estádios brasileiros que servirão de palco na Copa do Mundo de 2014.O que chamou minha atenção foi o fato de as duas conversas, embora ocorridas em dias e locais diferentes, terem rumado para o mesmo ponto: a tal mudança de perfil dos dirigentes. Na opinião de meus interlocutores - com a qual, diga-se de passagem, concordo - esse fenômeno não se deve a um processo de conscientização dos cartolas, mas a uma pressão do mercado.A explicação é simples. Nunca o futebol brasileiro movimentou tanto dinheiro. Estudos de várias empresas especializadas na análise das finanças dos clubes, publicados recentemente pelo Estado, mostram que a receita dessas agremiações quase dobrou nos últimos cinco anos. Somados, os 20 clubes mais ricos do País romperam a barreira dos R$ 2 bilhões movimentados em 2011.Diante disso, convido você, leitor, a fazer um exercício de imaginação. Coloque-se no lugar de um alto executivo de uma grande empresa que deseja investir pesado (entenda-se milhões) no patrocínio de um clube de futebol no Brasil. Você colocaria tanto dinheiro e, sobretudo, relacionaria sua marca a um time que tem como presidente um cidadão com as características descritas no segundo parágrafo deste texto? Cada vez mais me deparo com a resposta "não".A conclusão é que, no médio e longo prazos, o mercado exigirá que a administração dos clubes esteja cada vez mais nas mãos de profissionais de comprovada competência. E contra as leis do mercado não há politicagem que sobreviva.

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