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Sem-teto. Em nome dos Jogos

Obras ameaçam parte da população carente de Pequim, que pode ficar sem ter onde morar

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Por Reuters
Atualização:

Yu Pingju é uma pequena entusiasta da Olimpíada. Mas, se o governo levar adiante as ameaças de demolir sua casa em nome do embelezamento da cidade de Pequim, talvez ela acompanhe os Jogos das ruas. A poucas semanas do início da competição, algumas famílias ainda estão sendo retiradas de suas casas para abrir caminho para as arenas olímpicas e projetos de modernização de Pequim. Na tentativa de demover as autoridades de removê-la, Yu, que foi notificada de que deveria deixar lugar onde mora no domingo, colou fotos de Mao Tsé-tung, do presidente Hu Jintao e do primeiro-ministro Wen Jiabao na fachada da casa. "Eu apoio a Olimpíada de todo o meu coração", disse Yu. "Mas estão usando o evento como desculpa para nos expulsar e construir edifícios comerciais caros no lugar", denuncia. "Eles dizem que vamos afetar a tocha olímpica, que supostamente passará aqui na frente. Como isso seria possível? O que nós fizemos de errado?", pergunta Yu, que diz não ter onde ficar, se sua casa for demolida. O Centro de Direito de Moradia e Desapropriações, com sede em Genebra, estima que 1,5 milhão de pessoas tiveram de se mudar em Pequim porque suas casas criavam obstáculo para construções olímpicas. Segundo a responsável pelo centro de pesquisas da entidade, Deanna Fowler, quem se recusa a sair é vítima de repressão e a Olimpíada, que deveria melhorar a vida da população, piora a realidade dos mais carentes. "Pessoas que protestaram, exigiram compensações ou pediram para não ser removidas enfrentaram ameaças e prisões", afirma Deanna. Segundo a pesquisadora, outra tática das autoridades é enviar a polícia ao trabalho das pessoas e ameaçá-las de demissão. "A Olimpíada está sendo usada para aumentar a repressão." O governo e os organizadores dos Jogos desmentem as acusações. "Não há base para qualquer reclamação", rebate o porta-voz do Comitê Organizador (Bocog), Sun Weide. Ele afirma que apenas seis mil famílias fizeram parte do programa de remoção. "É importante melhorar o padrão de vida da população. Com os programas de desapropriação, o espaço para cada morador aumentou de 20 metros quadrados para 60." A Anistia Internacional também reclama. Segundo a entidade, vários moradores que protestaram foram presos. Zhang Yaoyao, que teve a casa demolida para garantir a segurança perto do Estádio Olímpico, diz que a indenização não foi suficiente para que continuasse a morar no centro. Acionou a Justiça - sem sucesso. "Talvez apele às Nações Unidas."

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