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Sinal amarelo

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Por Eduardo Maluf
Atualização:

Thierry Henry declarou na véspera de França x Brasil, pela Copa de 2006, que "os brasileiros são bons de bola porque não estudam e têm o dia inteiro para jogar futebol". Naquele dia eu acompanhava o treino da seleção dirigida por Parreira, em Frankfurt, e vi de perto a revolta de Juninho Pernambucano - um dos líderes do elenco - com o comentário do colega. O francês Henry, claro, generalizou e exagerou. Por outro lado, é óbvio que temos sérios problemas na educação, e muitos garotos pobres não conseguem ir à escola. A bola acaba sendo o caminho na busca de um futuro melhor. O esporte também está enraizado na nossa cultura. Mesmo nos melhores colégios particulares, jogamos futebol com regularidade. É uma paixão entre os mais abastados e os menos favorecidos, não há separação. Outra vantagem nossa é o tamanho do País. Com cerca de 200 milhões de habitantes, produzimos mais craques do que o pequeno Uruguai, por exemplo. Vivemos, no entanto, uma realidade um pouco diferente nos últimos anos. Continuamos esbanjando quantidade, mas sofremos com a queda de qualidade. Um pouco pela pressa em lançar jovens atletas, um pouco pela ambição excessiva de empresários. E também por uma fase ruim, talvez um momento passageiro, esperamos. Não podemos ignorar algumas evidências recentes. A repercussão não foi tão grande, mas a participação da seleção sub-20 no Sul-Americano da categoria merece atenção especial e precisa ser analisada com cuidado por técnicos e dirigentes. Num grupo com Venezuela, Peru, Equador e Uruguai, em que três se classificavam, o Brasil não tinha o direito de ser eliminado na primeira fase, com apenas uma vitória - e sofrida. Pela primeira vez desde que acompanho futebol, vi nosso time ser posto na roda pelo Peru, que venceu por 2 a 0, chutou bolas na trave e poderia até ter goleado. A equipe jogou mal nas quatro partidas e não apresentou nenhum atleta que podemos chamar de promissor. A mesma constatação faço na Copa São Paulo, que tem hoje a final entre Santos e Goiás. O nível da competição foi decepcionante e nenhum jogador chamou a atenção. O São Paulo, dono de uma das melhores estruturas na base, fracassou mais uma vez e, mesmo com nomes conhecidos, mostrou futebol pobre. A confirmação de que passamos por situação preocupante pode ser vista na primeira lista - com vários veteranos - divulgada por Felipão. A convocação de Julio Cesar e Arouca é sinal de que estamos carentes de craques. O goleiro já saiu do auge, embora tenha boas atuações pelo fraco QPR, da Inglaterra, e o volante santista é regular, igual a muitos por aí. O único jogador indiscutível é, mesmo, Neymar. E, ainda assim, nosso jovem astro poderia estar alçando voos mais altos, ganhando rodagem. Ao ficar mais uma temporada por aqui, perde a chance de crescer profissionalmente e acumular experiência. De que adianta, para seu futebol, enfrentar São Bernardo, Botafogo, Mirassol?

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