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Sonho realizado

Por Antero Greco
Atualização:

Não sei interpretar sonhos, nem para fazer alguma fezinha e muito menos para dar-lhes significado psicanalítico, o que deixo para os profissionais da área. Não entendo nada, também, de autoajuda e benesses do gênero, o que me impede de oferecer bons conselhos para quem pretende perseguir seus anseios. Só sei que sonhos às vezes se tornam realidade. Como aconteceu com aquele de Arouca - e, por extensão, do Santos, no final da tarde de ontem. O volante teve, digamos, a premonição de que marcaria na final com o Corinthians, e não é que conseguiu?! Na primeira etapa, ainda, abriu o caminho para o título, ao romper a barreira adversária. Por muito tempo, o 1 a 0 garantia a proeza de Arouca e seus companheiros. Mas houve espaço para o gol de Neymar aumentar a vantagem e até para Morais levar ligeira, muito leve mesmo, esperança de reviravolta no fim. Reação que afinal não se consolidou.O clássico que começou com tempo bom e terminou sob chuva, na Vila Belmiro, não se resumiu, porém, ao gol sonhado por Arouca, nem àquele marcado pelo futuro e jovem papai Neymar, muito menos à dedicação de Morais, que havia entrado no lugar de Bruno César e por pouco não ajuda a tornar o jogo dramático. O capítulo de encerramento do Campeonato Paulista de 2011 foi sobretudo a premiação de uma equipe que, mais uma vez, fez do equilíbrio e da eficiência suas características marcantes.O Santos não é extraordinário, tecnicamente está até aquém daquele do primeiro semestre do ano passado, quando era mortal no ataque, atrevido nos dribles e contava com pérolas em fase de polimento, como Ganso, Neymar e (naquele momento pelo menos) André. Todos com Robinho como mentor e como Dorival Júnior como o "professor".Mas a equipe que Muricy Ramalho pegou com a competição em andamento também tem qualidades, a principal delas no fim das contas foi a paciência. O tal DNA ofensivo, alegado pelo presidente Luis Álvaro para demitir Adilson Baptista, existe, embora tenha sido reprimido nas últimas semanas, em função dos mata-matas, das viagens e do desgaste físico. O Santos abriu mão do ritmo ostensivamente forte na frente, para tornar-se mais cerebral. Ou seja: aprimorou a marcação e soube ser prático. A tal da opção de jogar com o regulamento.Deu resultado, tanto que sofreu apenas um gol (o de ontem) nas últimas sete partidas. Segue adiante na Libertadores e fez a festa de mais uma copa doméstica. Não há razão para botar água no chope do torcedor, que tem mais é que alegrar-se. Não importa que diminuam o valor do Campeonato Paulista, título e taça nunca se desprezam. Só faria um reparo: o time correu riscos, ao deixar que o Corinthians pressionasse no segundo tempo. Poderia ter liquidado com alguma facilidade, se mantivesse presença constante na área do rival e se Neymar não desperdiçasse chance cara a cara com Júlio César, no fim do primeiro tempo, para fazer o segundo gol. Prefiro o ataque como forma de o Santos alcançar seus objetivos.Não há, porém, como negar valor à estratégia traçada por Muricy e seguida por seus jovens. O Santos atento e pragmático tratou de resolver tudo em meio tempo. Por isso, jogou em cima do Corinthians nos 45 minutos iniciais. Foi nessa fase que criou a maior parte de suas oportunidades. Parecia o pugilista que parte para sequência de golpes e sente o adversário baquear. Mas, mesmo quando acuava, não esquecia do jogo coletivo. Zé Love, por exemplo, teve participação decisiva no gol de Arouca e, em vários lances, chegou a combater na intermediária. Era, mais do que nunca, o um por todos e todos por um que Muricy tanto admira.O bloco se manteve coeso até na etapa final, ao ver o Corinthians crescer. Tite fez o que estava a seu alcance, com as alterações de praxe: saíram Dentinho, Paulinho e Bruno César, para a entrada de William, Ramirez e Morais. As mudanças surtiram pouco efeito. A equipe pressionou, rondou a área santista, só que derrapou em suas próprias limitações e, embora com volume louvável, deu três, quatro chutes com perigo. Pouco, para quem queria ser campeão.O Santos dizimado por contusões (Jonathan é a vítima mais recente e Leo voltou a queixar-se de dores) se supera com talento e dedicação. E pode agora concentrar-se em alvo maior: a Libertadores. Está com cara, no mínimo, de que vai á final. Tomara.

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