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S.O.S. futebol

Por Paulo Calçade
Atualização:

A guerra em que se transformou o clássico expõe a incapacidade do Estado de gerir a segurança pública. Se os velhos estádios brasileiros lembram arapucas, os novos geram temor pela sua modernidade. Entre o arcaico e o novo, não existe solução. O abacaxi também está na gestão do evento esportivo, incapaz de se atualizar para atender novas demandas, seja por meio de legislação específica ou simplesmente pelo exercício das boas ideias. Lamentavelmente, o futebol, que é o que interessa, acaba ficando em segundo plano, pois vai perdendo, lenta e sistematicamente, sua força por aqui. Mesmo assim, apesar de todos os confrontos e conflitos, ainda havia um jogo para ser disputado, o primeiro clássico no novíssimo Allianz Parque. Com apenas cinco nomes da equipe titular, Tite idealizou um Corinthians defensivamente sólido. De Cássio a Petros, escalou oito jogadores com características defensivas, para travar o meio de campo palmeirense e interferir na criação da equipe de Oswaldo, que tinha Maicon Leite, Robinho e Allione bem marcados. Petros foi designado para o setor direito, bem aberto, com o objetivo de minimizar a importância de Zé Roberto na armação. E se transformou em peça fundamental da vitória. Ao aproveitar vacilo do zagueiro Vitor Hugo e oferecer o passe do gol de Danilo, definiu a partida. Tite conseguiu o que queria, pelo menos até a expulsão de Cássio, aos 12 minutos do segundo tempo. O Corinthians tinha mais posse de bola e controlava o ímpeto do Palmeiras, ainda sem a organização tática que Oswaldo pretende dar ao time. O Palmeiras precisa de tempo. Um clube com 19 contratações é a confirmação do fracasso da temporada anterior. O volume de chegadas e de partidas lança uma aposta para o futuro, com reflexo positivo no ânimo do abalado torcedor palmeirense. Com o estádio novo e com o dobro do dinheiro da temporada passada, graças ao empenho de recursos do próprio presidente Paulo Nobre, foi possível contratar bons jogadores, como Arouca, Dudu, Zé Roberto e Cleiton Xavier. Oswaldo possui opções táticas e técnicas, mas está apenas no início da missão de formar um time de verdade. A primeira etapa está feita, a reformulação mudou o ambiente, mas não é garantia de sucesso. O palmeirense, a quem tanto se recomendou paciência no final do ano passado, precisa contribuir com seu apoio. Fora do campo, por menor e menos importante que seja o campeonato, a cada partida o futebol brasileiro, ainda bastante sensível aos interesses de associações criminosas, lança um sinal de socorro. Somos todos reféns da incompetência dos agentes públicos, incapazes de trabalhar preventivamente para tirar a turba violenta de circulação. Proibir a presença de torcedores corintianos no Allianz Parque seria a assinatura do caos. Entre o temor e a coragem, a sexta-feira foi épica, demonstração inequívoca de que a Copa do Mundo passou por aqui sem deixar nenhum rastro positivo. No sábado, mesmo sem clássicos programados para a cidade de São Paulo, corintianos atacaram são-paulinos dentro de um vagão do metrô na estação Carrão. Está na cara que o problema não é o jogo. Mesmo com dois dos estádios mais modernos do País, Palmeiras e Corinthians travaram uma batalha mesquinha a favor e contra a torcida única no clássico. Assim caminha a administração do esporte no Brasil. E não parece haver saída enquanto o futebol não for percebido como importante atividade econômica e de profundo conteúdo social. O jogo é só uma desculpa, um pequeno detalhe da complexidade que move a segurança pública. E que só piora em função da quase sempre desastrosa participação dos cartolas.

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