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Times que desandam

Por MARCOS CAETANO
Atualização:

Há coisa de três ou quatro semanas, controle remoto em punho, eu me dei ao trabalho de percorrer praticamente todos os programas esportivos dos canais de TV aberta e paga do Brasil. Em todos eles, claro, o assunto era o futebol. E só o futebol, diga-se de passagem, o que até renderia assunto para outra coluna, embora não venha ao caso agora. Nesses programas de estúdio, nas mesas redondas e afins, uma certeza parecia ter tomado conta dos comentaristas: só uma tragédia tiraria o título do Corinthians. Estavam errados os meus colegas em pensar assim? De forma alguma. Por ser alguém com razoável trajetória em programas desse tipo, sei da importância de não ficar em cima do muro, de arriscar um prognóstico. Ninguém assiste a uma mesa redonda para ouvir opiniões sem contundência. Há os que exageram, até para compor um tipo, mas o fato é que, àquela altura, o Corinthians era mesmo o palpite mais plausível.Poucas rodadas depois, muitos dos que acreditavam que o Corinthians parecia ungido para conquistar o título em seu centenário, começaram a expor sérias dúvidas sobre a capacidade do clube do Parque São Jorge conquistar ao menos uma vaga para a próxima Taça Libertadores. Por tudo o que vi até aqui no Brasileirão, fico me perguntando se nós, da crônica esportiva, não tomaremos outro gol por debaixo das pernas, mais ou menos como os institutos de pesquisa tomaram durante a apuração dos votos no primeiro turno das eleições presidenciais. Há no futebol - e, sobretudo, no futebol brasileiro - algo que não se cansa de desconcertar aos que se julgam capazes de fazer previsões certeiras. Refiro-me à inesgotável capacidade que as equipes têm tanto de se tornarem vinho da noite para o dia, como o Cruzeiro das últimas rodadas ou a dupla Fla-Flu da reta final do campeonato do ano passado, quanto de virarem vinagre quando menos se espera.Qual será a razão desse mistério? Por que será que alguns analistas que garantiam que o Corinthians de Adilson Batista vinha jogando melhor do que o Corinthians de Mano Menezes estão agora discorrendo sobre como o estilo pretendido pelo substituto de Mano fez, na verdade, desandar o Timão? Por que será que o Grêmio, que chegou a ser apontado como barbada para o rebaixamento, é agora cogitado por muitos como uma possível surpresa na Libertadores de 2011? Essas são questões que até conseguimos explicar - depois do fato está consumado. Mas que são impossíveis de serem previstas com mínima antecedência.Uma pessoa de juízo, mesmo sem entender de futebol, ao ler as histórias contadas nos parágrafos acima, ficará se perguntando: será que o Corinthians, a cinco pontos de distância do líder Cruzeiro, é mesmo carta fora do baralho? E quem nesse mundo pode garantir que o time de Cuca não vai desandar, que o Fluminense não vai renascer, que o Santos não vai surpreender ou que não vai baixar um caboclo no Botafogo, no Inter ou no Atlético Paranaense? É, amigo leitor, não é exatamente simples a vida de um analista esportivo. As variáveis são complexas demais para serem compreendidas em sua totalidade por meros mortais. A única vantagem é que, quando erramos totalmente nossos palpites, não perdemos o emprego. Muitas vezes um grupo de jogadores, mesmo com o time em boa fase, resolve não ir mais com a cara do técnico. Muitas vezes, um técnico novo consegue dar novo ânimo a um grupo de jogadores. E muitas vezes, o mesmo técnico que não conseguiu nada no campeonato até a reta final, tem a capacidade de buscar o último fôlego de seus comandados para a arrancada triunfal. Mistérios insondáveis do futebol. Que por isso mesmo é um esporte tão apaixonante.O momento é do Cruzeiro, isso ninguém nega. Mas o Corinthians terá a volta de uma lenda, Ronaldo; enquanto o Fluminense contará com o retorno de um de seus pilares defensivos, Diguinho, e do mais eficiente de seus atacantes, Emerson. Times decadentes? Calma, meus amigos. Muita calma nessa hora.

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