Tradutores abusam das gafes em Atenas

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Por Agencia Estado
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Mais do que algumas declarações ousadas de jogadores e treinadores ou perguntas maliciosas de jornalistas, o que chama a atenção nas entrevistas coletivas, mesmo, são os tradutores. Muitos deles, voluntários e não tão experientes, já fizeram tanta confusão que tiraram os entrevistados do sério. E não foram poucas vezes. René Simões, da seleção feminina de futebol, que o diga. Logo na abertura dos Jogos, no dia 11, ficou furioso com a moça escolhida para fazer a tradução do português para o inglês após a partida entre Brasil e Austrália. E não faltaram motivos. A grega, entusiasmada e ansiosa por estar numa Olimpíada, se atrapalhou. Não conseguia, por exemplo, anotar boa parte do que os técnicos falavam. Adrian Santrac, irritado com a derrota por 1 a 0, tinha de responder praticamente duas vezes a cada pergunta. Ela parecia ter problema para entender seu inglês, para depois passá-lo para o grego. Santrac ainda foi educado demais e não causou problema. Pior foi quando chegou a vez de o brasileiro falar. Sua tradução do português para o inglês não agradou nada ao treinador. A voluntária acrescentou algumas críticas à Austrália à boca de Simões, que não pensou duas vezes. Dispensou seu trabalho e, depois de se pronunciar em português, repetiu tudo em inglês. "Que dureza", esbravejou Simões. Situações curiosas ocorreram no vôlei feminino. O esporte não tem tanto apelo na Grécia e em muitos países da Europa. Por isso, as salas de entrevistas ficam praticamente vazias depois dos jogos. Mesmo assim, os organizadores costumam pedir que haja coletiva, com todas as formalidades. O técnico José Roberto Guimarães perdeu a paciência com tanta burocracia. Mesmo só havendo jornalistas brasileiros no local, o tradutor teimava em traduzir para o inglês. O motivo, ninguém sabe. Talvez para justificar o salário. Astuto, Zé Roberto resolveu dar o troco e começou a usar algumas gírias em suas declarações. "Se errarmos, aí o bicho vai pegar", disse, referindo-se ao time brasileiro. O tradutor, um senhor simpático e competente, olhou para ele e comentou não ter entendido nada. "Azar", rebateu Zé Roberto. "Tenta traduzir isso, meu amigo." O mais constrangedor nas coletivas é a situação por que passam alguns treinadores. Muitos vão embora sem ser questionados nenhuma vez, como o italiano Marco Bonitta, do vôlei feminino. Depois da derrota de sua equipe para o Brasil, foi ignorado e deixou o local da conferência falando um monte... Sorte que foi em italiano. O badalado Larry Brown, do badalado time de basquete dos Estados Unidos, respondeu a algumas perguntas após inesperada derrota do "dream team" para Porto Rico, no início da coletiva. Depois, porém, foi deixado de lado e o foco virou para os porto-riqueños. Irritado, Craig Miller, assessor de imprensa da seleção norte-americana, pediu aos voluntários para liberá-lo e foi atendido. Tradução remunerada - Os Jogos de Atenas contam com 24 voluntários para trabalhar na tradução das entrevistas coletivas. Eles têm cinco supervisores. Muitos não são tão experientes, embora esforçados, e acabam cometendo erros. Não são remunerados. Para os eventos mais importantes, são contratados profissionais, bem mais capacitados para exercer a função. "É importante ressaltar essa diferença, embora haja voluntários muito bons. Nós estudamos bastante os esportes para conseguir traduzir com precisão", contou a mexicana Graziella de Luís, que vive em Roma e foi chamada pela organização para trabalhar na Olimpíada. Os profissionais, ao contrário dos voluntários, recebem pela atividade.

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