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Tráfego aéreo

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Por Redação
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Estou em Ubatuba, dez dias de férias com as crianças. A mudança de paisagem já significa um repouso para a mente desacostumada com o verde dos morros e o azul do mar. Mesmo com a diminuição da quantidade de carros que circulam no mês de julho em São Paulo, viver na cidade é estafante, pois a repetição dos caminhos, das atividades, a própria rotina enfim é um dos elementos determinantes para o cansaço e a queda de rendimento. Muitas vezes uma pequena interrupção nesse moto perpétuo já é capaz de renovar o ânimo fundamental para a qualidade do envolvimento. A perda de estímulo é o início da prejudicial dispersão. Entramos num período do Campeonato Brasileiro em que os jogos ocorrem duas vezes por semana, em geral um em casa e o outro no endereço do adversário. É dormir e jogar, como bem dizem os técnicos. Curiosamente isso vai acontecer durante a tal "janela" do mercado europeu, a maldita brecha que nos rouba a cada ano os poucos craques que ainda permanecem no Brasil. Mas sobre isso não há o que fazer, e tão aborrecedor quanto assistir ao êxodo constante é a ladainha da reclamação estéril. Jogos às quartas e aos domingos são eletrizantes. Os times começam a se enfrentar incessantemente e a cada semana seis pontos estão em jogo. Esse é o charme do torneio de pontos corridos, uma espécie de maratona que identifica e premia a consistência e a regularidade das equipes. Só que para isso a qualidade e a diversidade de um elenco têm papel determinante. A seqüência pesada é desgastante, o pouco tempo para recuperação é fonte de contusões. A distribuição absurda de cartões amarelos que caracteriza a performance de alguns árbitros acaba por mutilar as equipes sempre desfalcadas. Deve haver alguma estatística para medir o índice de repeticão das escalações. Deve beirar a zero. Um aspecto pouco falado mas que acredito que exerça papel considerável nessa equação sinistra é a má qualidade da nossa malha aeroviária. Nesses tempos ridículos onde duas companhias praticamente monopolizam os céus brasileiros, o tempo de espera nos aeroportos é uma terrível calamidade para os passageiros. Viajo bastante por conta do meu trabalho. Meu deslocamento muitas vezes obedece a uma tabela cruel e sem lógica. E andamos mofando nos saguões lotados de viajantes desassistidos. Vôos cancelados, atrasos com a conseqüente perda das conexões, aeronaves estacionadas no pátio por problemas de manutenção, excessivo tráfego aéreo, mudanças abruptas e contínuas do portão de embarque, condições meteorológicas desfavoráveis - esses são os fatores mais freqüentes para o desastre que é a vida daqueles que dependem de aviões. E sabe o que é mais ofensivo? A falta de informação por parte dos responsáveis. Os poucos funcionários que estão à frente dos balcões não sabem o que dizer aos passageiros atônitos e alterados. Um cenário desalentador. É bastante comum encontrar uma delegação de atletas zanzando pelo saguão de um aeroporto superlotado. Facilmente identificáveis pelo uniforme padronizado, eles sempre chamam a atenção dos curiosos. Na permanente mobilização que as condições atuais da navegação aérea exigem de nós passageiros é natural que uma certa ansiedade seguida de animosidade infeste os espíritos calejados. Não há nenhuma segurança de que iremos chegar ao nosso destino. Não está longe o dia em que ouviremos da boca do locutor de uma emissora a frase inusitada: "Infelizmente o jogo foi adiado pelo não comparecimento do time adversário. O vôo tem pouso estimado para as 23 horas, sujeito a confirmação devido ao tráfego aéreo".

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