
02 de fevereiro de 2021 | 11h01
O time de futebol americano de Washington promoveu Jennifer King ao cargo de treinadora-assistente de running backs (corredores), fazendo dela a primeira mulher negra a se tornar treinadora em tempo integral na NFL. A promoção de Jennifer acentua a importância que o time de Washington passou a atribuir à diversificação depois de um ano tumultuado em que foram abandonados seu antigo nome e logotipo, amplamente considerados racistas. A decisão também ocorre em um momento em que a NFL é cada vez mais investigada por causa do pequeno número de treinadores negros.
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Jennifer, 36 anos, fez estágio como treinadora da equipe na temporada anterior, e já foi estagiária no Carolina Panthers e assistente ofensiva na Universidade Dartmouth. “Foi uma oportunidade que ela conquistou com trabalho duro", disse o treinador do Washington, Ron Rivera, em comunicado. “Para ela, o céu é o limite.”
Lenta e constantemente, o número de treinadoras na NFL aumentou nas cinco temporadas mais recentes, com oito delas integrando as comissões técnicas em 2020. De acordo com o Instituto para a Diversidade e a Ética no Esporte, que acompanha as dinâmicas demográficas raciais e de gênero em cinco ligas dos esportes profissionais, a NFL fica atrás apenas da NBA, que tem nove mulheres como assistentes.
Mas, se aproximadamente 70% dos jogadores da NFL são negros, há apenas dois negros entre os treinadores atuais, e apenas quatro - entre eles Rivera - não são brancos, de acordo com a medida de diversidade da liga. Dos sete empregos de treinador que ficaram disponíveis nos quatro meses mais recentes, apenas um ficou com um candidato não branco: o novo treinador dos New York Jets é Robert Saleh, um americano muçulmano de origem árabe. O cargo de treinador dos Houston Texans segue em aberto. Três candidatos de minorias foram contratados como diretores de futebol nas duas semanas mais recentes - Terry Fontenot, no Atlanta, Brad Holmes, no Detroit, e Martin Mayhew, no Washington - fazendo o total na liga chegar a cinco. O cargo de diretor de futebol é importante porque possibilita a contratação e recomendação de mais pessoas de cor para essas organizações. Mas é menos visível que o de treinador.
Na maioria dos casos, a carreira de treinador e olheiro na NFL é repleta de homens que jogaram futebol americano na universidade, reduzindo as chances de mulheres interessadas em desenvolver suas carreiras no futebol americano profissional. Mas, nos anos mais recentes, a liga fez esforços mais expressivos para dar mais oportunidade às mulheres, especialmente às mulheres de cor.
Foi criado o Fórum de Carreiras para Mulheres no Futebol Americano, evento anual realizado em parceria com as operações de captação de talentos da liga que, desde 2017, ofereceu a mulheres no início da carreira no futebol universitário a oportunidade de aprender com a NFL e trabalhar com diretores de futebol, treinadores e executivos. Na sessão de fevereiro do ano passado, 26 dos 32 times da liga participaram, e Samantha Rapoport, diretora sênior da NFL para diversidade e inclusão, disse esperar que, com o formato virtual no mês que vem, todos se envolvam.
Em 2015, Jen Welter se tornou a primeira mulher na comissão técnica de um time da NFL, como estagiária e treinadora-assistente dos Arizona Cardinals. Kathryn Smith se tornou a primeira a exercer plenamente o cargo de treinadora-assistente no ano seguinte, quando foi nomeada treinadora especial de controle de qualidade de equipes sob o comando do treinador Rex Ryan, dos Buffalo Bills, e, depois da temporada de 2019, Katie Sowers, que trabalhou principalmente com os wide receivers (recebedores) dos San Francisco 49ers, se tornou a primeira mulher a treinar um time na final do Super Bowl (depois de quatro temporadas com o San Francisco, Katie anunciou semanas atrás que não retornará ao cargo em 2021).
Outro marco ocorreu em novembro, quando Callie Brownson, dos Cleveland Browns, foi promovida brevemente a treinadora interina de tight ends, tornando-se a mulher de cargo mais alto na hierarquia de uma comissão técnica na história da liga. “Esperamos que essa se torne uma situação normal", disse Samantha, acrescentando: “Não queremos as marcas históricas. Não temos um cronograma para ver a primeira treinadora de um time. Nosso foco é outro. Queremos que as mulheres se tornem onipresentes no futebol americano".
Como muitas das mulheres que foram treinadoras na NFL, Jennifer jogou futebol americano e outros esportes. Integrou os times de basquete e beisebol da Universidade Guilford de 2002 a 2006 e foi treinadora do time de basquete da Universidade Johnson & Wales Charlotte de 2016 a 2018. Jennifer também jogou na Women’s Football Alliance com as Carolina Phoenix, as New York Sharks e as D.C. Divas.
“Pela sua forma de trabalhar com os rapazes, nós simplesmente a chamamos de treinadora Jennifer", disse Randy Jordan, treinador de running backs do Washington, ao Washington Post em dezembro. “A contribuição dela durante o jogo é fundamental. Há coisas que não enxergo e que ela mostra para mim. A opinião dela é muito importante não apenas para mim", prosseguiu ele, “mas para toda a comissão técnica. Ela tem feito um trabalho excelente."
Em meio a uma reforma organizacional promovida por Rivera, o time de futebol americano de Washington contratou pessoas de cor para cargos significativos nos 13 meses mais recentes. A equipe anunciou na semana passada que Mayhew, negro, seria o diretor de futebol, preenchendo um cargo que está vago desde 2016. Em setembro, o time acrescentou Jason Wright à sua diretoria, fazendo dele o primeiro negro na presidência de uma equipe da NFL. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL
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