Três recordes. E Bolt se supera

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Por Alexandre Calais
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Ao chegar a Pequim, o jamaicano Usain Bolt declarou: "Só ficarei realmente feliz se conquistar dois ouros (nos 100 e nos 200 metros)." Ninguém duvidou, mas ninguém também imaginou que seria tão fácil, principalmente nos 100 metros. Nessa prova, apesar de recordista mundial (9s72), ele teria rivais difíceis, como o ex-recordista mundial, o jamaicano Asafa Powell (9s74), e o americano Tyson Gay, que havia feito 9s68 nas eliminatórias americanas - tempo não considerado como recorde mundial apenas porque o vento a favor estava mais forte que o limite estabelecido pela Associação Internacional de Atletismo. Pois Bolt transformou os 100 metros em uma prova de um homem só. Sem Tyson Gay, que nem ao menos obteve classificação para ir à final, e com Powell distante dos seus melhores tempos, Bolt marcou 9s69, novo recorde, e chegou dois metros à frente do segundo colocado - uma imensidão para uma prova como essa, em que não raro o vencedor é decidido apenas na análise fotográfica da chegada. Nos 200 metros, novo passeio. Nas eliminatórias, o jamaicano já parecia saber que não tinha rivais - mesmo poupando-se visivelmente, chegou sem nenhum problema à final. E conseguiu um feito que poucos acreditavam possível, pelo menos nesta Olimpíada: quebrar o recorde do americano Michael Johnson, de 19s32, que perdurava desde 1996. Bolt fez 19s30, e tornou-se assim, um dia antes de completar 22 anos, o primeiro corredor a baixar as marcas mundiais das duas provas mais rápidas do atletismo em uma Olimpíada. Mas não estava terminado. Com uma geração excepcional de corredores, os jamaicanos traçaram a meta de roubar a hegemonia dos americanos no revezamento 4x100 metros. Os EUA venceram 17 das 21 provas disputadas em Jogos Olímpicos e eram os detentores do recorde mundial, de 37s40, estabelecido em 1992, na Olimpíada de Barcelona. Essa disputa, na verdade, não houve. Os americanos, com um erro na passagem do bastão, não chegaram à final. Restava aos jamaicanos - Nesta Carter, Michael Frater, Asafa Powell e Usain Bolt - quebrar o recorde mundial. E assim foi feito: 37s10. Bolt deixa a China com mais do que prometera. E, com 22 anos, pode se tornar para o atletismo a referência que faltou ao longo dos últimos anos em um esporte que viveu sempre sob a sombra do doping.

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