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Troca de gentilezas

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Por Antero Greco
Atualização:

Impressiona o comportamento involuntariamente cavalheiresco dos times que brigam pelo título. Falta uma rodada para o término do turno e nenhum dispara. Ou melhor, não há quem tenha vocação para distanciar-se. Porque oportunidades aparecem, para Corinthians, Fla e São Paulo, que desde o começo se revezam no topo. E eles as desperdiçam. Até o Vasco, em ascensão vigorosa, dá suas mancadas, como o 1 a 1 com o Fluminense no início da noite.O fim de semana foi um festival de erros. Os alvinegros de Tite de novo pisaram na bola, como tem sido corriqueiro de uns tempos para cá, e no sábado entregaram três pontos para o Figueirense, num Pacaembu lotado e sob chuva fina. Abriram mão, com o revés de 2 a 0, de ser campeões da primeira parte.A retribuição veio ontem por seus perseguidores diretos. Resta a sensação de ficaram constrangidos de estorvar o líder e se contentaram com empates. Avançaram um tiquinho, mas não deram o bote. Por educação? Ironia à parte, os resultados recentes mostram que não há esquadrões na Série A. Com qualidades aqui e falhas acolá, existem mais semelhanças do que diferenças no pelotão de elite. A oscilação parece marca registrada de todos, e fica claro que eram ilusórios episódios como o do Corinthians com eficiência superior a 90% no início. Como acontece nos últimos anos, a tendência é de a definição surgir nos capítulos derradeiros. O São Paulo expôs fragilidades no 1 a 1 com o Palmeiras, o terceiro empate consecutivo. O técnico Adilson Batista não quis arriscar-se e apelou para composição com três zagueiros e dois marcadores (Wellington e Carlinhos Paraíba). Um considerável bloco defensivo para brecar um rival tradicional, mas que tem amargado penúria de gols. Luan, com chutes esporádicos, Kleber distante da área - e, mais tarde Maikon Leite só na correria -, não deveriam botar medo em quem estava de olho na liderança. E do Palmeiras não há muito o que esperar: a intenção é rondar o G-4 (que fica mais longe) e, se aparecer brecha, encostar. O torcedor palestrino que não se iluda: não há obsessão por chegar firme na ponta. Que nada! Se sobrar uma vaguinha na pré-Libertadores, está ótimo. Senão, vai de Sul-Americana mesmo.Como São Paulo e Palmeiras não estavam com apetite para o ataque, Marcos e Rogério apareceram pouco (um par de boas defesas para cada um) e o clássico só não foi tão gelado quanto o clima na cidade graças aos dois gols - o de Dagoberto, uma obra-prima. A propósito: na crônica de ontem escrevi que, se apostasse na Loteca, cravaria empate. Palpite infelizmente certo, para duelo frustrante. O Flamengo foi ao Sul ainda atordoado com os 4 a 1 sapecados pelo Atlético-GO e ficou evidente o quanto depende de Ronaldinho. O astro gaúcho fez um belo gol de falta e deu vários passes de qualidade. Na etapa final, cansou - e, ato contínuo, o Fla perdeu a magia. Quem sabe, sabe. O penta mundial Sub-20, conquistado na noite de sábado na Colômbia, é a enésima demonstração da excelência da escola brasileira. Não se trata de obra do acaso, sorte ou desejo dos deuses. Por mais que a gente torça o nariz para coisas erradas e enxergue defeitos, aqui é fonte inesgotável de jogadores, no mínimo bons de bola. Não foi por coincidência que, em 18 edições do torneio disputado desde 1977, o Brasil tenha ficado ainda três vezes em segundo lugar (1991, 95, 2009) e três em terceiro (77, 89 e 05). Outra seleção vencedora é a Argentina, com seis títulos, um terceiro e um quarto lugares. Por isso, não é exagerada a fama que atletas desses dois países têm no mercado internacional. O sul da América é a região mais pródiga na revelação de talentos. Os europeus sabem disso há um século. Na conquista do penta, merecem aplausos os rapazes e a comissão liderada por Ney Franco. Méritos também para Mano Menezes por ter indicado o "professor". Uma safra boa e, se for mantida a tradição, alguns estarão na Copa de 14, quem sabe para seguir os passos de outros campeões do mundo nas duas categorias. Em 1983, Jorginho, Dunga e Bebeto estavam no time vencedor no México. Onze anos mais tarde, jogaram na campanha do tetra nos EUA. A maioria terá trajetórias normais, umas mais outras menos bem sucedidas, como acontece em toda atividade profissional. Com a vantagem de terem no currículo medalha de ouro em Mundial. Troféu inesquecível.

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