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Ucranianos mudam ginástica do Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O trabalho da ginástica artística brasileira, que pode desembocar nesta segunda-feira em uma medalha olímpica para o Brasil com o solo de Daiane dos Santos, na verdade começou com a chegada de Iryna Ilyashenko em 1999. A ex-ginasta ucraniana e técnica foi convidada para trabalhar no centro de treinamento de Curitiba e de cara tomou um susto: não se treinava duas vezes por dia, o que ela jamais imaginaria. E as meninas nem chegavam a fazer séries inteiras de uma vez - treinavam apenas parte delas - e a treinadora nem sabia se agüentariam desenvolvê-las por completo durante os campeonatos. Assim, Iryna começou o planejamento para formar uma equipe competitiva, que passou pelos Jogos de Sydney/2000 e passou a contar com o técnico Oleg Ostapenko, considerado um dos melhores do mundo, em seguida. Quando o compatriota chegou, já encontrou uma base preparada. Hoje a ginástica brasileira está no nível mundial: classificou-se para a final por equipes olímpica, o que foi inédito para o País, chegando aqui em Atenas ao nono lugar do mundo. Iryna tem 44 anos. Nasceu em Dnepropetrovski e competia pela União Soviética. Depois foi fazer mestrado em Moscou, sob o tema da sobrecarga de exercícios - o planejamento que era preciso fazer para antes das competições. Quando recebeu o convite da Confederação Brasileira de Ginástica, já trabalhava ao lado de Oleg desde 1994 e também tinha alunas próprias. Veio esperando tudo muito diferente. Teve de se acostumar, adaptar-se também para trabalhar com as meninas. "Em duas semanas, elas ´morreram´...!", lembra Iryna. "Mudamos a qualidade dos treinos. Fazíamos aquecimento de até duas horas, mas nem era aquecimento. Era uma etapa preparatória, para o corpo agüentar. A Camila Comin, por exemplo, não agüentava fazer os elementos muitas vezes. Eu ensinava posições do corpo, elas faziam exercícios lentos para sentir a contração dos músculos durante o exercício, sentir o próprio corpo." A ginástica é o esporte mais difícil por combinar vários aspectos, além de ser tridimensional. É preciso força, flexibilidade, explosão, coordenação - e não ter medo. "Tudo tem de estar na medida exata, na medida ótima, senão a ginasta ´sai voando´... E por isso temos um treino básico todo dia, porque se perde essa noção muito rápido. Para correr, você aprende aquilo, assim como para nadar. Na ginástica, é preciso fazer o básico todo dia, para não perder essa noção e ainda aprender coisas novas sempre." Sintonia - Iryna diz que desde os 11 anos de idade a garota já tem decidido o que irá fazer, de acordo principalmente com as características do corpo, com a coordenação, com o medo de um elemento ou de outro. "A Ana Paula Rodrigues, por exemplo. É longilínea e não gira muito. Faz mais piruetas - o que não é adequado para a Daiane, que tem as curvas da coluna vertebral mais acentuadas." A partir daí, brinca Iryna, "o ginasta tem de ter mais medo do técnico do que dos elementos". E como o esporte é de risco, a ligação entre técnico e atleta também é muito estreita. "Eu sinto tudo o que ela sente. Sei o limite da dor dela. Antes mesmo do movimento já sei que vai cair. A ginasta tem de sentir que eu vou segurá-la, sentir essa energia."

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