UE propõe fim a troca de ameaças de boicote com a China

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Por CHRIS BUCKLEY
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A China deveria deixar clara sua oposição aos boicotes a produtos europeus, disse na quinta-feira o comissário de Comércio da União Européia, Peter Mandelson, acrescentando que as ameaças mundiais de boicote à Olimpíada de Pequim também podem causar ressentimentos. Muitos chineses estão decididos a boicotar as empresas européias, especialmente a rede francesa de supermercados Carrefour, por causa das manifestações contra o regime chinês ocorridas neste mês na passagem da tocha olímpica por Paris. Além disso, o Parlamento Europeu pediu aos líderes da UE que boicotem a cerimônia de abertura da Olimpíada de Pequim, em agosto, caso a China mantenha sua recusa em dialogar com o Dalai Lama, líder espiritual tibetano no exílio. Mas Mandelson, falando em Tóquio pouco antes de embarcar para Pequim, disse que as ameaças de boicotes mútuos apenas "aprofundam diferenças, criam enormes ressentimentos e tornam o diálogo muito mais difícil." "Eu gostaria que o governo chinês deixasse clara novamente sua reprovação a essas propostas de boicote, porque elas não vão ajudar a resolver as questões econômicas e comerciais entre nós." Nos últimos dias, funcionários do ministério chinês do Comércio citam com entusiasmo a grande presença do Carrefour na China, mas sem críticas explícitas à idéia do boicote. Uma delegação da UE, chefiada pelo presidente da Comissão Européia (Poder Executivo), José Manuel Barroso, chega na sexta-feira em Pequim para reuniões destinadas a promover as relações bilaterais e discutir políticas climáticas. Da parte de Mandelson, a atividade mais importante será o início de um processo regular de negociações para reduzir o desconforto provocado na UE pelo grande superávit comercial chinês. Mas os cuidadosos preparativos diplomáticos foram ofuscados pelos distúrbios de março contra o regime chinês no Tibet e arredores, o que provocou os protestos nas cerimônias olímpicas de Londres e Paris, desencadeando, por sua vez, manifestações nacionalistas dos chineses. A comissária européia de Relações Exteriores, Benita Ferrero-Waldner, disse a jornalistas em Tóquio que o Tibet será um dos assuntos tratados por ela em Pequim, junto com questões ambientais. "É claro que entendemos as sensibilidades sobre a soberania da China. Mas acho que é justo pedir respeito à cultura tibetana, e também às suas tradições", afirmou ela, insistindo no diálogo entre Pequim e o Dalai Lama. "Portanto, nossa mensagem ao governo chinês será para que participe de um diálogo construtivo e substancial, que trate das principais questões." Jiang Yu, porta-voz da chancelaria chinesa, reagiu em entrevista coletiva dizendo que o Tibet é um assunto interno da China. No fim de semana, milhares de chineses saíram às ruas em várias cidades para defender um boicote às empresas francesas, especialmente ao Carrefour. José-Luis Durán, diretor da rede de supermercados, negou que o Carrefour dê apoio ao Dalai Lama, acusado por Pequim de promover os distúrbios no Tibet para atrapalhar a Olimpíada -- o que o líder budista nega. Aparentemente alarmadas com a onda de nacionalismo exacerbado, as autoridades e a imprensa chinesas pedem aos cidadãos que demonstrem seu patriotismo de forma racional e legal. Mandelson disse que a necessidade de moderação se aplica a ambas as partes. "Não podemos propor boicotes olímpicos na Europa e então nos surpreender de que haja propostas para boicotes a produtos europeus na China", afirmou. (Reportagem adicional de Lindsay Beck, em Pequim, e Yoko Kubota, em Tóquio)

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