Palmeiras e Botafogo produziram uma partida moldada pelos desfalques. Caio Júnior apostou no entupimento do meio de campo como forma de amenizar o desequilíbrio de uma equipe acostumada a usar Loco Abreu como referência na área e Herrera como o recuperador de bolas. Sem eles, a mudança no estilo botafoguense é radical, pois elimina o jogo aéreo e interfere decisivamente na preparação de jogadas.Pior, com Caio no ataque e Maicossuel se aproximando dele, havia uma certeza: o time não possuía em campo jogadores capazes de prender a bola na frente e impedir a saída dela pelos zagueiros. Por isso, o Botafogo foi escalado entre o 3-6-1 e o 4-5-1, sempre com gente demais no meio de campo.É preciso conhecer o adversário para entender o Palmeiras e seus problemas, que começam pela contusão de Valdívia. Felipão deu o pontapé inicial no campeonato bem otimista, escalou três atacantes, tentando se aproveitar da fragilidade ofensiva do rival. O congestionamento no meio de campo botafoguense inibiu as subidas de Marcos Assunção e liquidou com o jogo de Tinga.A bola demorava a chegar a Adriano, Kleber e Luan. Não demorou muito para Assunção preferir o atalho dos lançamentos, responsáveis por abrir uma fenda entre os volantes e os atacantes. Havia espaço demais entre eles. Estava ótimo para o Botafogo, que não parecia mesmo disposto a se arriscar, mas era pouco para o Palmeiras na estreia e mais ou menos em casa.Felipão, então, mudou a postura da equipe. Trocou Tinga por Patrick para o segundo tempo. E assim venceu a partida. Kleber não é meia e nem atacante de área, daqueles que jogam de costas, levando trombadas dos zagueiros. Precisa da bola, de frente para gol. Bastou-lhe um bom passe, um delivery de Márcio Araújo, realizado pelo setor direito, para decidir. De frente para o bom goleiro Jefferson surgiu o golaço: corte na marcação com a perna direita e a conclusão, no ângulo, com a esquerda, aos 19 minutos.O jogo terminou ali, Caio Junior tentou aproximar sua equipe do gol, mas sabia que sem Loco Abreu, Herrera e reforços não havia como. Ao lado de Atlético Mineiro e Vasco, o Botafogo manteve-se fora das cinco primeiras colocações da competição nacional desde a adoção dos pontos corridos, em 2003. É bom refletir sobre isso.E por falar em sistema de disputa, desde a mudança os clubes viram aumentar suas receitas em 171%. Com uma fórmula mais estável, em que se conhece a tabela do começo ao fim, quando começa e quando termina a competição, a arrecadação do futebol brasileiro saltou de R$ 805 milhões para 2,2 bilhões. Com o mais dinheiro, e já gastando por conta do novo acordo coma TV, válido a partir a próxima temporada, é natural se esperar mais qualidade em campo.Nesse período, a elite do futebol nacional também sofreu com as quedas de Grêmio, Corinthians, Vasco e Atlético Mineiro. A grande vantagem do novo formato é mostrar aos clubes a necessidade de se organizarem mais cedo. Melhorou, mas ainda falta muito para o profissionalismo imperar por aqui.Mesmo com a perspectiva de avanço técnico, não se pode esperar o mesmo da estruturação do calendário, afinal temos uma Copa América em julho na Argentina, com a seleção em campo enquanto a bola não para por aqui. A Confederação Sul-Americana e a CBF cuidam de seus negócios e os clubes que se virem.O principal produto do futebol do País ainda é tratado como um problema encravado no meio da temporada. Não é estranho que antes da primeira rodada alguns clubes já se apresentem com seus treinadores balançando, ou em plena reformulação dos seus elencos.