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Um mundial com bom astral

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Por Jorge Valdano
Atualização:

A tendência é de um jogo atrevido e de boa técnica coletiva. Isto se traduz em bom número de gols e em partidas interessantes. O calor, que anunciava jogos tediosos, não condicionou a qualidade de partidas tão esperadas como Holanda-Espanha, Itália-Inglaterra ou Alemanha-Portugal, todas cheias de atrativos à sua maneira. Salvo Cristiano Ronaldo, as figuras de quem se esperava algo já entraram no cenário do Mundial. A Neymar, Van Persie, Benzema e Müller não lhes bastou um gol. Quanto a Messi, foi lenda dentro de outra, a do Maracanã, e seu gol foi digno desse encontro mitológico. É ao menos curioso que a surpreendente goleada da Holanda sobre a campeã do mundo tenha se incubado a partir de uma cautela tática, que não parecia digna de uma seleção sempre atrevida. Os holandeses começaram chamando a Espanha de senhora, depois passaram a tratá-la por tu e, no segundo tempo, faltaram-lhe com respeito. O primeiro tratamento foi premeditado, pois foi decidido na preparação da partida. E chegou-se à falta de respeito de modo espontâneo: há ocasiões em que o futebol decide viradas anímicas, físicas e futebolísticas de consequências terríveis. Posso entender que uma mudança tão espetacular modifique uma partida, e até que ponha em perigo o futuro esportivo de uma equipe na competição. Mas é incompreensível que um feito dessas características modifique o passado, a visão histórica de uma equipe desta dimensão. Itália e Inglaterra jogaram uma partida limpa, tecnicamente esmerada, e que foi jogada ao ritmo determinado pelo calor e por Pirlo. Nem a Inglaterra protagonizou um festival de chutes nem a Itália levantou sua barricada. Jogaram. E em muitas passagens, muito bem. Pirlo, que num exercício de coerência encerra sua carreira com cara de sábio, conduz a Itália como um regente de orquestra. Mas toda vez que ele toca na bola, o que soa está mais perto de uma valsa do que de uma tarantela. Na última meia hora, apareceu o instinto conservador, mas se agradece a Prandelli o esforço para refrescar esta Itália. A Inglaterra tem jovens que se atrevem a encarar com a graça de uma serpentina e a convicção de um martelo. Mas, por alguma razão, seu futebol viaja mal e sempre tem razões para perder. Um discreto Brasil venceu o nervosismo da apresentação, o gol contra de Marcelo e a frieza da gente de São Paulo para ganhar com este rei do pop futebolístico que é Neymar, talentoso, atrevido e substancial quando as partidas ficam complicadas. Oscar o ajudou a agitar a partida de estreia. Mas creio que os dois são demasiado jovens para liderar um aspirante a campeão. Estas primeiras impressões são provisórias. Porque a aventura de um Mundial é muito grande e abrupta para se acreditar que tudo será como parece. Aguardam-nos surpresas, fatalidades, genialidades, paradoxos e todas essas coisas com as quais o futebol se diverte, enquanto nós, frágeis seres humanos, nos iludimos e sofremos.

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