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Um passo de cada vez

colunista convidado
Por LUIZ ZANIN
Atualização:

Já tem muito brasileiro esfregando as mãos e ansioso pela hipotética decisão da Copa das Confederações com a Espanha. Menos, menos. Para que esse jogo final se concretize de fato, é preciso que o Brasil passe pelo Uruguai e a Espanha pela Itália. É o desfecho mais lógico das semifinais? Sei lá. Pode ser. Mas desde quando o futebol obedece a lógica como um cachorrinho que segue o dono de rabo abanando? Pode perfeitamente dar outra final e nem zebra será se isso acontecer. Ou o Uruguai não pode bater o Brasil e a Itália dar uma travada na Espanha? Por que não? Afinal, estamos na chamada briga de cachorro grande. Todos os candidatos têm títulos mundiais no currículo. Isso deve querer dizer alguma coisa. E diz, mesmo que tradição não jogue e nem entre em campo. Mas conta, como peso de camisa, de alguma forma. Por exemplo, inútil dizer que o Uruguai, apesar de campeão da América, já conheceu dias melhores no futebol. Sempre que entrar em campo contra o Brasil haverá quem lembre daquele fatídico jogo de 1950 no Maracanã. São coisas antigas, evocadas como se tivessem acontecido ontem. Nem o estádio permanece o mesmo, mas a memória segue viva. Pergunte aos jogadores. E há o jogo que a Itália encara como revanche da goleada por 4 a 0 que levou na final da Eurocopa. Motivação pode não ser tudo na vida, mas é importante. E podem ter certeza de que a torcida brasileira apoiará os italianos contra os espanhóis nesta partida. Aliás, a Espanha é a seleção mais vaiada de toda a Copa. Por quê? Por que são antipáticos? Nada disso. Por que é o time a ser batido. Atual campeã e dona de um estilo de jogo que agrada mais aos cronistas que à torcida, a Espanha não tem despertado grande admiração por aqui. Mas se impõe e, quando sai daquele insuportável tique-taque de lado e parte em direção ao gol, o faz com admirável precisão. Se os nigerianos tivessem 10% da precisão cirúrgica dos espanhóis, não teriam perdido o jogo de maneira tão nítida, por 3 a 0. A técnica vale muito e deve ser reconhecida.De qualquer forma, acho que devemos mesmo torcer por um Brasil x Espanha, mesmo que isso signifique dificuldade maior para ganhar o título. Afinal, precisamos de testes com times fortes, como já tivemos com a Itália e teremos com o Uruguai. E que teste mais forte pode haver que este contra os atuais campeões do mundo, bicampeões europeus e donos de estilo de jogo que pode ser questionado em vários aspectos menos em sua eficácia? O grande problema do futebol hoje em dia é se haverá uma maneira de quebrar essa infernal posse de bola espanhola e tornar o jogo mais igual para os dois lados. Felipão e Parreira devem estar de olho no jogo espanhol e buscando um jeito de neutralizá-lo. Haverá essa maneira? Bem, quem assistiu ao jogo entre Espanha e Nigéria viu que não foi a moleza esperada. Tivessem os nigerianos o pé na fôrma e a história poderia ser outra. Além disso, a Espanha não exibiu aquela posse de bola tão acachapante como é de hábito, e expôs-se a um resultado menos favorável. Talvez ganhasse de qualquer jeito, tamanho é o desnível técnico entre as equipes, mas teria de suar mais. A se confirmar essa hipotética final entre brasileiros e espanhóis, veremos algo que, para mim, é uma das delícias (cada vez mais raras) do futebol: o afrontamento entre estilos diferentes. O Brasil conseguirá praticar contra a Espanha a blitz inicial que o tem caracterizado nesta Copa das Confederações? Ou vai chegar mais devagar? Neymar mostrará a mesma gana exibida em outros jogos contra seus futuros companheiros de clube (a maior parte da seleção é formada pelo Barcelona)? Enfim, são dúvidas a apimentar esse tira-teima sobre a hegemonia espanhola no futebol. Levando-se sempre em conta que a Espanha é um time formado, pronto e testado; e o Brasil, ainda que tenha progredido, continua como o próprio País: em obras. E às vezes confuso e sem saber o que quer da vida.

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