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''Vamos com tudo para ganhar o ouro''

Entrevista - Marta: jogadora de futebol

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Por Cosme Rímoli
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''A Marta é incrível. Fico encantado quando a vejo jogar.'' O elogio à melhor jogadora de futebol do mundo em 2006 e em 2007 partiu do maior jogador de todos os tempos. E o rei dos gramados ainda acrescentou: ''A Marta é o Pelé de saias.'' No início deste ano, a camisa 10 da seleção brasileira e do Uema, da Suécia, de 22 anos, tomou um grande susto ao receber um telefonema da Itália. ''Eram dirigentes de um time da Segunda Divisão (Ascoli). Queriam de toda maneira que eu fosse disputar o campeonato masculino. Eu disse não'', relembra, rindo. ''Muitas de nós somos mais técnicas e mais ágeis que a grande maioria dos homens. Mas perdemos feio na força física.'' Atualmente, tem contrato exclusivo com a marca de roupas esportivas Puma. ''Faço propagandas aqui na Suécia. Mas tenho propostas fortes para fazer no Brasil. Não quero adiantar, mas será algo impressionante, grande mesmo.'' O presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, está decidido a contratar a atleta se as competições femininas no Brasil deslancharem. ''Eu fiquei sabendo que ela recebe no máximo R$ 80 mil na Suécia. Esse salário é muito viável'', diz Sanchez. Mas o Corinthians terá um grande concorrente. A empresa Anschutz Entertainment Group (AEG) quer levá-la para os Estados Unidos depois da Olimpíada. Aliás, Marta e o Brasil terão um desafio dificílimo no sábado. Enfrentam Gana em Pequim e quem perder está fora dos Jogos Olímpicos. Marta falou ao Estado, na semana passada, por telefone, da Suécia. Por que você acredita na conquista da medalha de ouro? Primeiro vamos ter de passar por Gana. Nós somos superiores, mas a vaga será decidida em um jogo só. É uma partida perigosa. Elas são raçudas. Mas e a medalha de ouro? Se passarmos por Gana, temos uma enorme chance. Sabe por quê? Nós estamos muito mais amadurecidas. Agora que passou eu posso falar. Na última Olimpíada e na Copa do Mundo havia brigas importantes que travaram o grupo. Mesmo assim conseguimos chegar às duas finais. Perdemos porque estávamos divididas. No Pan do Rio no ano passado tivemos uma conversa séria. As brigas acabaram. Estamos mais unidas do que nunca. Vamos com tudo para ganhar a medalha de ouro. Você chorou quando o Brasil perdeu as duas decisões? Nem uma gota. Eu sou uma pessoa que chora na alegria e não na tristeza. Nas duas vezes eu fiquei sozinha, abatida no vestiário pensando nos erros que o Brasil cometeu. Eu aprendo muito nas derrotas.'' É verdade que você quer ser a pessoa do Brasil a receber mais vezes o título de melhor do mundo? Ganhar mais que qualquer homem como Kaká, Ronaldinho Gaúcho... Sim. Já ganhei duas vezes e vou fazer tudo para ganhar mais. Me sinto no auge da carreira e não há por que não lutar muito para ter de novo as minhas maiores emoções na vida. Quero mais, muito mais. Como comparar a vida de jogadora de um grande time sueco com um time brasileiro? Na Suécia há o profissionalismo e no Brasil, não. Aqui só nos preocupamos em jogar. No Brasil, as meninas se desdobram em jogar, ir para a faculdade, trabalhar, porque o dinheiro é muito pouco. Eu trabalhei duro demais para estar jogando na Suécia. Como é a sua vida? Uma vida de muito trabalho. O futebol feminino não paga nem de longe o que o masculino recebe. Tenho consciência que muita gente que eu amo, a minha família, depende do meu dinheiro. E eu tenho o maior prazer do mundo em jogar e em ajudar quem eu amo. Como é a sua privacidade? A imprensa sueca acompanha todos os meus passos. Sei que sou um exemplo para as crianças aqui. Sou um ídolo. Então me seguro. Me divirto, vou ao cinema, vou dançar, faço churrasco. Mas sem excessos. Sei o que está em jogo cada dia. O presidente do Corinthians quer contratá-lo. É possível? Eu fico honrada, feliz da vida porque o Corinthians é o time do meu coração. Sou apaixonada desde os 8 anos quando vi pela televisão em Alagoas o Marcelinho Carioca. Jurei para mim mesma que vou jogar com a camisa do Corinthians.

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