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Várzea contra profissionalização

Times se esforçam para manter em seus elencos ?craques de domingo? e a tradição de reforçar os clubes da capital

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Por Bruno Deiro
Atualização:

Campeonatos fortes e rivalidades renovadas marcam a volta aos bons tempos do futebol amador na capital. Após a extinção de vários campos nas décadas de 70 e 80, os times de fim de semana renasceram nos últimos anos. Organizado demais para ser chamado de varzeano, o futebol amador luta agora para não ficar sério além da conta. Com torneios mais elaborados, clubes regulamentados e alguns patrocínios polpudos, o atual desafio nos campos de várzea é evitar a profissionalização. "Está mais difícil de se manter, a maioria dos times não tem boa condição e alguns atletas migram para quem paga", diz Mineiro, presidente do Comercial, de Pirituba. "Antigamente tinha um pouco mais de amor à camisa", brinca. A motivação destes atletas de domingo, porém, segue a mesma, para aspirantes ou frustrados: todos querem viver um dia de craque. Esta é a proposta da 3ª edição do Campeonato Paulista de Futebol Amador, que teve início neste fim de semana. Os finalistas ganham o direito de decidir o título no Pacaembu e o campeão leva da Federação Paulista de Futebol (FPF) um troféu semelhante ao que o Corinthians levantou na conquista do Estadual, com papel picado e tudo. A competição, ao lado da tradicional Copa Kaiser, reúne as principais equipes da várzea paulistana. Organizada pela Secretaria Municipal de Esportes, com apoio da FPF, tem este ano a participação de 480 times, de todas as regiões da cidade. Equipes tradicionais como o Botafogo,de Guaianazes, e o Danúbio, da Freguesia do Ó, dividem espaço com novas forças como o Vida Loka, da Brasilândia, e o time da Vila Lapenna, de mesmo nome, atual campeão. Todos têm estatuto, ata de fundação e até CNPJ. "Há algumas décadas, éramos varzeanos. Hoje, somos apenas amadores", diferencia Marola, responsável por organizar os jogos na zona norte. "Começar uma equipe não sai por menos de R$ 200." O torneio é parte da revitalização do futebol amador em São Paulo nós últimos anos, após um período de retração. Em 1965, existiam 2.500 campos em São Paulo. A expansão imobiliária e a crescente urbanização reduziram este número para 186, sob controle da Secretara de Esportes. Hoje, a secretaria estima cerca de mil campos, 400 deles regulamentados, para um número de equipes calculado entre 3 e 5 mil. Muitos deles participam dos Jogos das Cidades, que têm um caráter mais socializador. "Perdemos muitos campos de futebol na cidade", reconhece o coordenador de equipamentos esportivos da Secretaria, Alécio Gamberini. "Desde o fim da década de 70 o número só foi diminuindo. Deram lugar a prédios, praças e escolas." Para evitar outras perdas, há um projeto municipal para tombar os campos da cidade - o projeto se encontra pendente na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara de Vereadores. Se nas décadas de 40 e 50 foram crias dos campos de terra craques como Oberdan Catani e Dino Sani, hoje isto é cada vez mais raro. "A maioria dos jogadores se desiludiu, é muito difícil entrar em clube grande sem empresário", diz Mineiro. Mesmo assim, alguns nomes atuais ainda nascem na várzea - os dois exemplos mais recentes vieram do Leões da Geolândia . Artilheiro da última Copa Uefa com o CSKA Moscou, o atacante Vágner Love foi descoberto na equipe. Outro que atuou em Vila Medeiros foi o corintiano Elias. Dispensado pelo Palmeiras, recorreu à várzea há três anos, onde ressurgiu para o futebol profissional.

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