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''Ver o futebol como espaço de democracia racial é ilusão''

Por Manuel Alves Filho
Atualização:

O futebol ainda tem muitos pontos que envolvem discriminação, inclusive de xenofobia, em que alguns países enxergam no imigrante alguém que está roubando um posto de trabalho do morador local. Esse preconceito que habita os gramados e as arquibancadas é algo oculto, mas, às vezes, é exposto. E, quando isso ocorre, choca as pessoas. O fato é que o racismo deve sempre ser entendido como uma forma de violência. Sempre se imaginou o futebol como um espaço de democracia racial, mas uma pesquisa realizada recentemente pelo Grupo de Estudos em Futebol da Unicamp mostrou que isso não é verdade. Por democracia entende-se uma igualdade de direitos. Nos gramados, os negros estão muito bem representados e valorizados. Mas, fora dele, isso não se repete. Basta ver o número de negros que ocupam cargos de técnico ou dirigente esportivo. O espaço do negro se restringe ao campo de jogo. Uma frase do técnico Lula Pereira, um dos poucos treinadores negros que conseguiram espaço em grandes times, mostra bem isso. Ele disse que sempre precisava provar duas vezes mais competência para ser aceito em um grande clube. No caso do jogo de quarta-feira, é possível se entender a reação do Maxi López como uma pura provocação de jogo, mas, neste ponto, outra questão precisa ser abordada: por que ele buscou um elemento racista para fazer a provocação? Ou seja, ele poderia perfeitamente ter ofendido a mãe do adversário ou até mesmo ter feito alguma referência à qualidade técnica deste, mas não. Preferiu buscar um argumento racista, o que mostra que o preconceito é algo que, de fato, foi utilizado como forma de ofensa. Por mais que ninguém goste de admitir isso, é preciso reconhecer que o racismo existe. Esse é o ponto básico, aliás, para começarmos a evoluir. A partir daí, deve se buscar uma mobilização coletiva. No futebol, como na sociedade, precisamos admitir nossa miscigenação e conviver com ela. Enquanto não nos reconhecermos como somos, não podemos nos imaginar como uma nação evoluída. * Pesquisador do Grupo de Estudos em Futebol da Unicamp

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