Virei cartola

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Por Marcos Caetano
Atualização:

Quem diria, amigo leitor. Depois de tantos anos criticando os cartolas, eu me tornei um deles. Desde ontem, sou dono de um time de futebol. Para não perder a objetividade de minhas análises locais e por conta da admiração pelas tradições futebolísticas da terra da rainha, decidi comprar um time do futebol inglês, mais precisamente o Ebbsfleet United F.C., do condado de Kent, próximo a Londres. Trata-se de um clube fundado em 1946 a partir da fusão de duas agremiações que atuavam no futebol britânico desde 1890: o Gravesend e o Northfleet. O Northfleet, inclusive, se notabilizou por revelar talentos para o Tottenham na década de 30 do século passado. O Gravesend & Nortfleet F.C., como foi rebatizado, se tornou um clube conhecido e chegou a disputar a quarta fase da gloriosa FA Cup, nos anos 60, quando foi eliminado no jogo de volta pelo Sunderland. Nos anos seguintes, a história do meu clube foi de altos e baixos, mas nos mantivemos vivos e voltamos a avançar na FA Cup de 1996, quando disputamos dez partidas até sermos batidos pelo Aston Villa, na terceira fase do mais antigo campeonato de futebol do planeta. Somos, como os fatos comprovam, uma equipe com passado. E, agora, felizmente com futuro. Em maio de 2007, 67 anos depois da fundação do Gravesend & Northfleet, mudamos nosso nome para Ebbsfleet, com o objetivo de celebrar o renascimento econômico da região na qual o time nasceu. Como dirigente, não abro mão de participar das principais decisões que envolvem a equipe e sua forma de atuar. Sou ouvido quanto a aquisições e transferências, opino diretamente na formação e escalação dos jogadores, estabeleço medidas disciplinares, defino o treinador, o fornecedor de material esportivo e qualquer outra coisa relevante para o dia-a-dia do clube. Logo após a compra, minhas primeiras decisões envolveram a aprovação da proposta da Nike para fornecer nossos uniformes a partir do ano que vem e a escalação do time que joga hoje contra o perigoso Burton Albion. A compra do Ebbsfleet, conhecido pelo carinhoso apelido de The Fleet (A Frota), envolveu 635 mil libras, ou R$ 2,1 milhões. Mas, fique tranqüilo, amigo leitor. Não enriqueci da noite para o dia. Tornar-me dono do clube consumiu tão somente 75 libras (R$ 250) de minhas economias. Sou um de 28 mil internautas que se divertiam no site de futebol MyFootballClub e decidiram que a experiência de governar um clube do mundo virtual poderia não apenas ser divertida no mundo real, mas, talvez, uma grande revolução no futebol. Sem exceção, todas as decisões que mencionei nesta coluna são tomadas pelo voto direto e online dos sócios - até mesmo a escalação do time. Nossos resultados ainda são tímidos, mas ocupamos a nona posição no campeonato da Blue Square Premier, que dá acesso às principais ligas da Inglaterra: League Two, League One, Championship League e Premier League. Os cinco primeiros colocados da Blue Square Premier jogarão um playoff para definir quem sobe para a League Two - e esse é o nosso próximo objetivo. Não desistiremos até que o nosso clube dispute a Premier League, o que, se eu e meus 28 mil sócios trabalharmos direitinho, acontecerá até 2012. Somos jovens - há muitas crianças entre nossos sócios-dirigentes - e, portanto, temos tempo para ver nosso sonho se concretizar. Antero Greco se definiu ontem como um comentarista-sonhador. Carta para dois, amigo. Se torcedores podem ser donos do destino de seus clubes e concorrer com os cartolas das antigas, é porque tudo ainda é possível no mundo do futebol. A Democracia Corintiana é tímida perto do que está acontecendo. Let?s go, The Fleet!

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