Publicidade

Você acredita em saci? Eu não

Boleiros

PUBLICIDADE

Por antero.greco@grupoestado.com.br
Atualização:

O São Paulo perdeu três jogos em seguida e isso bastou para muita gente esfregar as mãos e achar que virou o fio pelos lados do Morumbi. Juro que vi santistas e palmeirenses sonhando com a possibilidade de seus times chegarem ao título, naquela que seria a reviravolta mais espetacular da história do Campeonato Brasileiro. Na matemática, ainda dá; na prática, é delírio de torcedor. Esse sentimento de esperança serve para animar os mais influenciáveis, é como placebo - aqueles remédios de faz-de-conta: se não fazem bem, também não prejudicam. A sucessão de derrapadas tricolores por 1 a 0, contra Flamengo, Corinthians e Millonarios, chama a atenção por ser inusitada para um time eficiente, que funciona bem, como relógio suíço. Suíço, não; como um honesto relógio japonês. As derrotas não são catastróficas nem representam indício de decadência. Exagero achar que o time espanou. Aqui entre nós, pode aparecer até o mais poderoso secador, que ainda assim o São Paulo fará a festa pela conquista do campeonato nacional. Questão de tempo, de mais algumas rodadas e certamente de outros tropeços. Não tem ziquizira que atrapalhe a caminhada, nem vodu cai nessa. Por que escrevo isto? Por bom senso e justiça. A equipe que o Muricy maneja com destreza, embora nem sempre com bom humor explícito, é a mais harmoniosa da Série A. Não se trata de nenhuma maravilha da arte de jogar bola - e por acaso tem alguma equipe do gênero no Brasil hoje em dia? De qualquer forma, dentro dos padrões domésticos o São Paulo cumpre seu papel de protagonista com eficiência. Se não dá espetáculo também dificilmente merece vaias do público. Vamos dar uma repassada?Começa por um goleiro (Rogério) que dispensa comentários - e que merecia estar na seleção. Os três zagueiros habituais (Alex Silva, Miranda e Breno) dão conta do recado e não são useiros e vezeiros em lambanças. Tanto que é de longe a retaguarda menos vazada. Os cinco de meio-campo (Souza, Hernanes, Leandro, Richarlyson e Jorge Vágner) combinam força com velocidade. Na frente, Aloísio não pode ser chamado de matador, porém abre espaços e de vez em quando guarda seus gols. Dagoberto se firmou como ponto de referência, o jogador que desequilibra. Se bem que Richarlyson tem jogado muito. Quando é necessário, ainda entram Hugo, Borges e André Dias, o veterano Júnior, sem grande perda de qualidade. A série de escorregadelas pode preocupar o são-paulino, mas só até certo ponto. Praticamente é impossível ir de cabo a rabo numa competição de 38 rodadas sem derrota. Mesmo nos períodos em que Santos, Botafogo, Flamengo, Palmeiras, Corinthians, tiveram timaços vira e mexe deixavam pontos aqui e ali. Se bem que o Inter, em 79, ganhou o tri invicto - 16 vitórias e 7 empates. Quase cometo uma injustiça com Mauro Galvão, Batista, Falcão, Mário Sérgio... Critiquei várias vezes a choradeira de Muricy, ao se referir a cansaço, desgaste com viagens, trocas de hotéis, etc, como se só seu time fosse acometido desse mal. Noves fora o exagero, jogador não é máquina, que basta desligar ou fazer ajustes e volta a funcionar à perfeição. O que permite ao São Paulo manter a calma e não perder o sono - se bem que convém não dormir de touca - é a vantagem aberta sobre os demais. Só se eu acreditasse em saci apostaria que a diferença será anulada. Saci pra mim é o Pererê, do mestre Ziraldo. O resto é lenda.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.