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Voltou!

Com o Estádio do Pacaembu lotado, Corinthians festeja a volta à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro

Por Fábio Hecico
Atualização:

Desta vez as lágrimas foram de alegria. O grito, de festa. Em pé, após cantar por 90 minutos, com misto de sorriso largo e choro emocionado, o corintiano soltou o grito: "Ô, o coringão voltou, o coringão voltou, o coringão voltou, ô..." Após 328 dias de sofrimento, o Corinthians está, com seis rodadas de antecedência, de volta à Primeira Divisão do Campeonato Brasileiro. "O Corinthians merece, é um time grande. Não torço para ele, mas estou extremamente satisfeito por sua volta." O elogio, facilmente se encaixaria na boca de um corintiano. Mas se ele não torce, quem seria o autor do discurso? Marcos, goleiro do arqui-rival Palmeiras mandou, do Maracanã, logo após levar 3 a 0 do Fluminense, os parabéns ao oponente. Uma prova de quanto o Corinthians é respeitado no cenário nacional. No dia 2 de dezembro de 2007, também num jogo com dois gols - ontem foi Corinthians 2 x Ceará 0 - o corintiano desabou em lágrimas com o 1 a 1 com o Grêmio em Porto Alegre. Naquele fatídico dia, a história do tradicional clube de 98 anos estava arranhada com a queda para a Série B. Do atual elenco, Felipe, Dentinho, Lulinha, Carlos Alberto, Bruno Octávio, Fábio Ferreira, Nilton e Marcelo Oliveira participaram daquela desastrosa campanha. O goleiro estava em Porto Alegre. Era o único titular - Dentinho teve de cumprir suspensão. Deixou aquela campanha como estrela solitária e prometeu levar o time de volta. Ontem, acabou nos braços da torcida literalmente, retribuindo a confiança e o carinho. "Tiro um caminhão das costas." A festa no Pacaembu lotado - 35.426 torcedores - começou antes mesmo de a bola rolar. Foram distribuídas 40 mil bandeirinhas nas cores preta e dourada com os dizeres: "Eu voltei, agora pra ficar", refrão da música O Portão, de Roberto Carlos, e adotada como tema do retorno à elite. Alguns torcedores também já vestiam a camisa com a mesma mensagem. O único momento de silêncio aconteceu antes de a bola rolar. Um minuto em memória ao pai do auxiliar-técnico Sydney Lobo, que morreu na véspera. Todos respeitaram. A cantoria retornou assim que o mato-grossense Maurício Aparecido de Siqueira apitou o início da partida. Bandeiras gigantes, cada uma em seu momento, enfeitavam as arquibancadas. E dá-lhe batucada e músicas de incentivo. "Não pára, não pára, não pára...", "Aqui tem um bando de louco..." e "Eu nunca vou te abandonar" surgiam, com toda empolgação, como o time em campo, com toques de pé em pé. Morais para Elias, Elias para Herrera. O argentino cai, luta, se levanta, acerta a trave e no rebote, Douglas garante a primeira explosão de alegria. Gooooooooooool, grita o narrador, inflamado. Gooooool, comemora a torcida. O Pacaembu tremia com só oito minutos. A torcida jogava junto e o pessoal do sistema de som, em parceria com o do placar, também. Era anúncio do gol do Paraná diante do Barueri - o Corinthians só subiria ontem se o time da Grande São Paulo não vencesse (perdeu por 2 a 1) - e do Fluminense sobre o Palmeiras (foram três). Apesar de tudo estar a seu favor, Mano Menezes mostrava e pedia seriedade. Da beirada do campo, não poupava a voz para deixar seu time ligado. "Não podemos entrar no clima de já ganhou da torcida", reconheceu Morais, no intervalo. "Ainda temos o segundo tempo. E o jogo do Barueri também não acabou", endossou Douglas. A demonstração de profissionalismo mostrada pelo Corinthians em toda a Série B seguiu na fase final. Sem deixar o Ceará respirar, o time partiu para cima, como tem de fazer um time de Primeira Divisão, criou inúmeras chances e ampliou, em cobrança de falta ensaiada. Adilson não segurou o chute forte de Cristian e o zagueiro Chicão - garantido na festa apenas na quinta-feira, ao ver sua suspensão de 120 dias no STJD ser reduzida para 2 jogos - deu números finais ao confronto. O resultado estava construído aos três da fase final. Com radinho no ouvido, o corintiano fazia figas para o Barueri não virar. Veio a notícia do gol do Paraná e a missão de 2008 estava completa. Necessitando apenas de mais dois pontos para ser o maior pontuador da Série B em pontos corridos, com o melhor ataque (67 gols), defesa menos vazada (22 gols sofridos) e 20 vitórias, o Corinthians voltou a fazer seu fanático torcedor ter orgulho. "Tamô de volta", trazia, com erro de português, a faixa entregue para Felipe e Dentinho. Tudo bem, mais valia o sorriso e a festa.

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