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Zanetti brilha nas argolas e conquista ouro para o Brasil em Londres

País descobre um campeão que já era respeitado pelos seus feitos em competições internacionais

Por AMANDA ROMANELLI
Atualização:

LONDRES - Entre paradas de mãos, giros, crucifixos e maltesas, termos que certamente entrarão para o vocabulário dos torcedores brasileiros, Arthur Zanetti fez história. Em 1min15 de exibição na Arena North Greenwich, o atleta de 22 anos conquistou a primeira medalha olímpica da ginástica artística do País. O ouro na prova das argolas veio depois da apresentação de sete ginastas, incluindo o tetracampeão mundial e ex-campeão olímpico Yibing Chen, da China, com a nota de 15.900.

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Pouco badalado, com o primeiro patrocínio pessoal conquistado às vésperas da Olimpíada, Arthur Zanetti não foi uma surpresa para o mundo da ginástica. Mesmo assim, não chegou aos Jogos de Londres sob a torcida - e a pressão - vivida por Daiane dos Santos e Diego Hypolito. Nas duas últimas Olimpíadas, os especialistas do solo eram considerados favoritos e sucumbiram em suas apresentações.

Zanetti, que treina desde os oito anos em um ginásio modesto do Serc-Santa Maria, clube bancado por uma associação de pais e pela Prefeitura de São Caetano do Sul, é o atual vice-campeão mundial da prova e ganhou três das quatro etapas de Copa do Mundo neste ano. Na última delas, realizada em Ghent, conquistou a nota mais alta da temporada, 15.925. "Agora, espero que essa medalha abra muitas portas para o meu ginásio, para mim, e também para toda a ginástica do Brasil."

Para sua primeira Olimpíada, Zanetti e seu técnico, Marcos Goto, fizeram uma estratégia meticulosa para chegar ao lugar mais alto do pódio. A começar pela análise do principal expoente da prova, Chen. Para batê-lo, ginasta e treinador decidiram que era preciso igualar a nota de partida - soma dos valores dos elementos da série, segundo o código de pontuação da Federação Internacional de Ginástica. Assim, a apresentação do brasileiro, que tinha dificuldade de 6.500, subiu três décimos e ficou igual à do rival. Em março, o primeiro teste com a nova apresentação foi feita em uma competição em São Bernardo do Campo (SP).

O trunfo do brasileiro, quase seis anos mais jovem, está na execução dos movimentos. Na avaliação dos árbitros, que analisam as falhas na realização dos elementos da série, Zanetti sempre esteve mais perto da perfeição do que Chen. Foi assim ontem, quando, igualados na nota de partida, o futuro campeão levou o ouro por 0.100 a mais que o adversário. Dos 10.000 possíveis, Zanetti recebeu 9.100 dos juízes. O chinês ganhou 9.000.

Arthur sempre teve Chen no horizonte, embora evite fazer comparações. "Ele é quatro vezes campeão mundial, campeão olímpico, um excelente ginasta", afirmou. "Mas tenho de agradecer a ele por ter chegado aqui. Foi para derrubá-lo, no bom sentido, que precisei melhorar."

Longe dos holofotes. A tática para vencer Chen e aliviar a pressão do estreante também esteve presente na prova de qualificação, realizada no dia 28. Zanetti entrou na competição com uma série mais simples, com nota de partida de 6.500, e mesmo assim passou para a final em 4.º lugar, com 15.616. O chinês foi o primeiro, com 15.858.

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"Mudamos a série para evitar ser o primeiro a se apresentar na final. É muito difícil entrar direto da sala de aquecimento para o aparelho. Ser o primeiro é pior do que ser o último (na prova)", explicou Goto. "E também tem a questão da arbitragem, que vai ter de calibrar as notas. Muitas vezes, o primeiro ginasta não tem uma nota muito alta. Há estratégia em tudo isso."

Como líder da qualificação, Chen foi o primeiro a competir. Mas Arthur nem viu. "Decidimos que eu iria me apresentar aos árbitros e iria para o ginásio de aquecimento. Quando retornei, vi a nota dele. Vi que poderia pegar uma medalha, mas queria a de ouro."

Com a tranquilidade dos campeões, Zanetti foi ao aparelho para fazer sua série. Fechou a competição de maneira brilhante, com o público aplaudindo a exibição. Na saída, deu um passinho para trás. E um sorriso enorme. "Estamos fazendo um trabalho benfeito há anos. Estou satisfeito com essa medalha inédita."

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