O técnico José Roberto Guimarães já começou a rezar para ver a seleção brasileira feminina de vôlei no pódio olímpico em Atenas, em agosto. Também repetiu a promessa feita no ano passado, para seu time ser campeão brasileiro, de andar os 800 quilômetros do caminho de Santiago de Compostela, da França à Espanha. A fé é a saída encontrada pelo técnico contra a falta de planejamento da Confederação Brasileira de Vôlei em um ano olímpico. ?Estou rezando desde já para todos os santos, da letra A à Z. Com a situação criada pelo calendário da Superliga, o planejamento da seleção está comprometido?, avisou Zé Roberto, que conquistou a inédita medalha de ouro com a seleção masculina nos Jogos de Barcelona, em 92. O principal motivo da reclamação do técnico é o fato de os times da Superliga precisarem de 22 rodadas (e não de apenas 18) para concluirem o turno e returno do campeonato, que pode acabar só em 1º de maio, com playoffs em séries melhor-de-cinco nas quartas-de-final, semifinal e final, além das folgas no meio do torneio. Sua equipe, a Finasa/Osasco, que jogou no dia 31, vive agora um período de 11 dias de folga. ?Uma criança de 10 anos faria um calendário melhor?, criticou o treinador. A Unidade de Competições Nacionais da CBV é gerenciada por Renato D?Ávila, o alvo das críticas. Segundo Zé Roberto, Paulo Márcio, gerente de seleções, não foi consultado sobre o calendário, o que evidencia que o planejamento das seleções não teria sido considerado, bem como a falta de integração entre os departamentos da CBV. ?Não sei o que houve. Eu, como técnico, não conversei sobre o calendário de 2004. A proposta da Finasa era um torneio terminando, no máximo, em 15 de abril, com playoff em melhor-de-três nas quartas-de-final e melhor-de-cinco nas semifinais e final. Faltou cuidado ao montar o calendário e isso aborrece?, revelou Zé Roberto. Pelo planejamento da comissão técnica, as meninas folgariam por 15 a 20 dias depois do fim da Superliga e disputariam a BCV Cup, em junho, tendo o ?lastro? de pelo menos seis semanas de treino. ?Um trabalho sem folga pode provocar lesões. E não posso ir à BCV Cup com quatro semanas de preparo, sem lastro físico e técnico?, explicou. Assim, a seleção não jogará a BVC Cup. Treinará e disputará o Grand Prix, na Ásia e Itália. Quando estrear em Atenas, em 14 de agosto, somará 2,5 meses de preparação. ?Três semanas a mais já fariam boa diferença?, pediu Zé Roberto. O presidente da CBV, Ari Graça, disse que a Superliga é uma ?empresa praticamente independente?, em que os clubes decidem. ?E nós apoiamos?, garantiu. O dirigente prefere ?ter um torneio forte, como o do Brasil, a uma seleção que treina 6 meses, como a da China, e não tem contra quem jogar?. Mas Ari Graça admitiu que ainda pode mudar o calendário. ?Basta que os clubes concordem?, disse o dirigente, que já pensa numa forma de compensar os clubes, como pagar passagens aéreas ou oferecer transmissão de jogos em canal aberto de TV.