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Zerou a pedra!

Por Marcos Caetano
Atualização:

Quem trabalha com vendas ou joga sinuca certamente conhece a expressão. "Zerou a pedra!", avisa o gerente quando acaba o mês e o grande quadro que registra a produção de cada vendedor é solenemente apagado, indicando que a vida recomeçou. Não importa se em novembro Fulano vendeu três vezes mais que Beltrano: no primeiro dia de dezembro, os dois voltaram a ficar iguais. "Zerou a pedra!", gritam também os jogadores de sinuca, para avisar que uma partida se encerrou e que, na próxima, tudo pode acontecer. Quando zera a pedra, vencedores podem se tornar perdedores e os vira-latas podem ter seu momento de grande campeão da raça. Eu não sou tão saudosista a ponto de reivindicar o estado de coisas dos tempos em que era comum um jogador começar e encerrar a carreira no mesmo clube. Tempos em que os onze titulares que disputavam uma temporada, salvo por questão de aposentadoria ou uma transferência assombrosa, retornavam no ano seguinte vestindo as mesmas cores, no mesmo clube. Entendo que o mundo mudou e a velocidade dos negócios do futebol é incrivelmente maior. Mas as coisas estão de um jeito que os times parecem um salão de corretores ou de sinuca. Todo final de ano, zera a pedra. Há algum tempo era comum vermos um time perder quatro ou cinco jogadores no final da temporada, mas, ainda assim, manter a tal "base". Hoje, muitos times são inteiramente desmantelados antes do Réveillon. Quando zera a pedra, ou seja, quando um time muda inteiramente de uma temporada para a outra, não necessariamente o torcedor se frustra. Os corintianos, por exemplo, sabem que seu time será bem diferente e mais cheio de estrelas do que o que disputou a Série B. E devem estar respirando aliviados, pois não seria Herrera o homem capaz de furar as defesas das equipes de Primeira Divisão. Se Ronaldo terá condições físicas de fazer isso, é outra questão. Mas condições técnicas ele tem. O Palmeiras, com recursos de sua parceira, está interessado em buscar, no Coritiba, sua espinha dorsal para o ano que vem. Keirrison, Carlinhos Paraíba e Maurício estão, ao que parece, a caminho. E o Coritiba, como fica? Provavelmente do mesmo jeito que o Fluminense, sem Washington, Junior Cesar e Arouca, que interessaram ao São Paulo. Fora o São Paulo, clube mais estruturado e que sempre consegue fazer contratações expressivas - não por acaso o grande papão de títulos da década -, os demais clubes brasileiros são uma montanha-russa de emoções para os torcedores. Num ano, estão na Libertadores; no outro, brigando contra o rebaixamento. O Fluminense inovou e fez as duas coisas na mesma temporada. O Flamengo teve uma temporada que, sempre que pareceu capaz de ser doce, se provou amarga. Como será o Flamengo da próxima temporada? Alguém faz idéia? Com Adriano ou com Obina? A diferença, convenhamos, é abissal. E o Santos? E o Botafogo, que perdeu tantos talentos? Como vão jogar esses times? Noel Rosa perguntou na canção famosa: "Com que roupa?". Quase todos os torcedores do País estão se aprontando para a festa da temporada que vem. Mas eles se perguntam: "Com que time?" Pode ser um time que receberá vários reforços no apagar das luzes, e que vai brigar por títulos. Pode ser um time que, sem dinheiro e forçado a escalar a garotada, terá, se der sorte, destino parecido ao do Santos de Diego e Robinho. O que o torcedor não quer, nem de longe, é ouvir os versos de Noel: "Meu paletó virou estopa e eu não sei mais com que roupa eu vou pro samba que você me convidou."

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