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Zona de conforto

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Por José Maria de Aquino
Atualização:

Hoje é domingo, tarde de futebol. Futebol no estádio, claro, que torcedor de verdade não entra nessa de se esborrachar numa poltrona e "pagar para ver". Tem que ser lá, de pé ou sentadão, espremido ou num camarote da moda, com direito de aplaudir ou vaiar. Nada substitui essa proximidade. Nem 15 câmeras desnudando o espetáculo, com ex-árbitros posando de juiz e julgando friamente, de estúdios refrigerados, o trabalho do quarteto. E, o que é pior, divergindo uns dos outros. Pior ou melhor? Não, jogo bom é no estádio. Seja na Javari, papeando com vendedores de amendoim, ou no velho e bom Pacaembu, palco de Corinthians x Santos daqui a pouco. Não um Corinthians x Santos como nos tempos de Gilmar, Zito, Coutinho e Pelé, de um lado, Clóvis, Luiz Carlos, Ditão e Rivellino, do outro. Nada de saudosismo, que minha barca é outra. Se tem craques de verdade, tem, se não tem, a gente dá uma força, enche a bola dos que já são quase passado e dos que parecem ter futuro. A tarde é de Ronaldo e Neymar. Isso que interessa. É para vê-los em ação que vou desenrolar minha bandeira e fazê-la dançar ao sabor do vento que nunca abandona o vale. Opa, segure aí. Já ia esquecendo. Bandeira ao sabor do vento não vai dar. Infelizmente os mastros de bambu e plástico que as sustentavam foram proibidos desde que os espertinhos que neles guardavam pinga e maconha foram flagrados pela polícia. Que chatos! Chatos eles, bem entendido, os caras do fuminho. O espetáculo perde um pouco da sua beleza mas, sem a pinga e fuminho, diminui a violência nos estádios. Quer dizer, era para diminuir. O fato é que parece aumentar a cada clássico, principalmente quando, nos dias que os antecedem, os cartolas surgem com ideias mirabolantes, fingindo defender os torcedores dos times que comandam. Ainda não me conformo com a confusão provocada pelos diretores do São Paulo, mandando apenas 10% da capacidade do Morumbi - 67 mil lugares - para a torcida do Corinthians. E dos comandantes do Corinthians, entregando os ingressos para as uniformizadas, assim como se dissessem "olhem só a mixaria que mandaram para a Fiel". Como pra bom arruaceiro meia palavra basta, bastou. A roupa que vou vestir para ver Ronaldo e Neymar já está separada. Calça preta e camisa branca. Sem nenhum detalhe. Nada de amarelo, para não acharem que sou santista. Lembram que, quando presidente, Samir Abdul-Hack arranjou um jeito de colocar amarelo no uniforme do Santos? Pois é, justificava dizendo que o primeiro uniforme santista era amarelo, mas não sei não. Acredito mais em obra de algum Pai de Santos. O time não andava lá essas coisas. E nada de vermelho, para não pensarem que sou maluco. Vou é pra torcer por um grande jogo. Antes de rumar para o Pacaembu, nada daquele tradicional macarrão com frango, que dona Lurdes gosta de preparar. Só uma salada reforçada e suco de laranja. A gente nunca sabe se algum maluco vai "brincar" de soltar rojões na outra torcida ou atirar uma bola de bilhar recheada de dinamite, aprontando a maior correria. Depois de uma saladinha dá para fugir da confusão, mas não depois de uma suculenta. Como vou pra ficar no meio da galera, nada como prevenir acidentes. Sou jornalista, estou com a anuidade da Aceesp em dia. Como vou de torcedor, não quero tomar lugar dos companheiros na tribuna, que hoje na certa estará lotada. Desde ontem desliguei o radinho. Cansei de ouvir cartolas dos dois times falando as mesmas bobagens. A culpa não é deles. É dos que os procuram. Mas precisavam entrevistá-los a semana inteira sobre a tal carga de ingressos? Como eu, acho que os torcedores querem saber o que os jogadores têm a dizer e não cartolas e técnicos chorões. Já no estádio, vou me ligar apenas no jogo. Quero ver se Ronaldo leva jeito de suportar, não esse Paulistinha, mas o Brasileiro que vem aí. E de, hoje, encarar o zagueirão Domingos. Sou fã do seu futebol objetivo, direto para o gol, mas não sou Pachecão. Por isso não estarei analisando se tem chance de disputar a Copa de 2010. Como não tenho compromisso com o "politicamente correto", já sei que não tem. A outra atração que me leva a seguir a multidão é Neymar. Quero vê-lo de perto num jogo quente como esse promete ser. Pelé espera que o garoto faça mais gols e comemore como ele fazia, socando o ar. Eu também. Ele e Ronaldo. Robinho torce por pedaladas para cima da defesa corintiana - cena que só espero ver se na direção do gol. Objetividade sem firulas. Porque, talvez mais do que sobre o Fenômeno, passado e presente, os olhos da multidão estarão sobre Neymar, presente e futuro. Futuro que ainda é uma incógnita. Ainda mais cercado por tantos e perigosos elogios. * Jornalista esportivo, comentarista do Terra TV

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