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A passagem da tocha acesa pelos nazistas

Ritual começou durante os Jogos Olímpicos de Berlim em 1936, inspirado na Grécia antiga, aponta jornal

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Por Redação
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Se você quer saber como a tocha olímpica  realmente iniciou sua "jornada da harmonia" - como os chineses chamam sua passagem atual - ou como a tocha passou por obstáculos humanos formados por protestos, homens da SWAT e da polícia em São Francisco, Paris e Londres, não deve olhar para as reclamações do Tibete contra a China. Olhe para a abertura do filme Olympia (1938), de Leni Riefenstahl. Veja também:  O trajeto completo do revezamento da tocha pelo mundo  Os protestos e a ligação histórica com os Jogos Olímpicos Naquela admiração aos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, as origens do ritual foram reveladas. Nunca antes uma tocha havia sido acesa num templo grego em Olímpia, na Grécia, para um competição atlética, sem falar nos milhares de corredores tentando impedir que a chama se extinguisse. Leni criou, então, um filme equivalente à abertura de Wagner 'Ring', onde o mundo inteiro emergia gradualmente de fragmentos elementares. A câmera começa em uma paisagem de ruínas místicas, com pilares quebrados cobertos de grama. Inquieta e dando voltas, a câmera revela um tempo grego nas ruínas. Cabeças e corpos de estátuas da Grécia surgem na estranha ilha. Sob a sensibilidade das lentes de Leni, um disco do arremesso ganha vida, e uma pedra polida se transforma em um corpo musculoso. Outro atleta se prepara para lançar uma flecha, em seu caminho na direção de um vaso com fogo. Acendendo a tocha, outro auxiliar triunfante levanta o objeto, como Wagner Siegfried levanta sua espada. Depois, a missão é dada para a humanidade, e a passagem começa. A tocha é levada a um portador para outro e chega a Berlim, onde, num estádio, para 110 mil pessoas, é acesa em um altar flamejante. O ditador Hitler saúda a multidão. A passagem da tocha desta maneira mostra a linhagem de uma herança histórica, fazendo do nazismo alemão o herdeiro da Grécia antiga. A cerimônia, que nunca tinha sido relatada nas origens dos Jogos Olímpicos, estava começando. Em 1940, Hitler disse ao arquiteto nazista Albert Speer, que os "Jogos Olímpicos terão seu lugar em Tóquio, mas antes ficarão em Berlim". Speer queria construir um estádio de 400 mil lugares em Nuremberg, na Alemanha, para ser a sede permanente das Olimpíadas. O Comitê Olímpico Internacional oferece uma história parcialmente diferente para a passagem da tocha. O Museu Olímpico em Lausanne, na Suíça, explica que a tocha faz alusão aos "valores positivos do homem, que sempre foram associados ao fogo", e sua passagem representa "uma mensagem de paz e amizade entre as pessoas". Mas os Jogos Olímpicos preservam a aura narcisista do mito nazista. Agora, apesar da China tentar passar uma imagem agradável da passagem da tocha - 'Acenda a paixão, compartilhe o sonho', diz o site oficial chinês - está exposta sua essência nacionalista. Há razões que explicam os motivos da China querer uma rota que invoca glória (ao atingir o pico do Everest) e poder (passando por Taiwan). De fato, a passagem em 1936 foi uma ameaça mais obscura. A tocha passou por Tessalonica, Grécia, Bulgária, Belgrado, Iugoslávia, Budapeste e Viena, e foi recebida durante seu percurso não por protestos, mas por demonstrações pró-nazistas. Um editorial visionário do The New York Times, pressentindo o anúncio da guerra, chamou a rota da tocha de "uma estrada estratégica", que traçava a linha da Alemanha para o Oriente, que o kaiser procurou na Primeira Guerra e Hitler colocaria em prática em breve. Desde então, as rotas de passagem das tochas, assim como os Jogos Olímpicos, freqüentemente estão sujeitos a distúrbios e conflitos. A defesa da iniciativa das Olimpíadas prega que os ideais universais do senso esportivo e da imparcialidade concedem meios para superar diferenças nacionais. Mas a história sugere que o sentimentalismo está passando por rituais e práticas que proclamam algo diferente. Atualizado às 12h17 para correção de informação

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