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Após suspensão de Rafaela Silva, duas judocas lutam para ir aos Jogos de Tóquio

Jéssica Pereira e Ketelyn Nascimento vão atrás de pontos no ranking para ocupar o lugar da campeã na Olimpíada

Por Paulo Favero
Atualização:

A suspensão da judoca Rafaela Silva, campeã olímpica e mundial, por doping a tirou dos Jogos de Tóquio, mas abriu caminho para outras atletas na categoria até 57 kg. E agora duas atletas vão correr atrás dos pontosnecessários para subir no ranking e tentar carimbar a vaga olímpica. As mais cotadas são Jéssica Pereira e Ketelyn Nascimento, e é nelas que a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) apostará suas fichas nos próximos eventos. "Não vamos poupar nenhum recurso nisso, inclusive levando elas para competições menores para ganharem confiança e competitividade", revela Ney Wilson, diretor de alta performance da CBJ.

Jéssica tem 26 anos e disputava a categoria abaixo, até 52 kg. Então ainda está se adaptando ao novo peso, mas já mostrou sua força ao derrotar a portuguesa Telma Monteiro, medalhista de bronze nos Jogos do Rio. Ketelyn, por sua vez, é mais nova (22 anos), mas vem de bons resultados nas equipes de base. Já chegou, inclusive, a ganhar de Rafaela em duas oportunidades, no Troféu Brasil e no Grand Slam de Brasília. Ambas terão boas oportunidades de subir no ranking, pois a Federação Internacional de Judô confirmou mais três eventos de Grand Slam no calendário internacional.

Jéssica Pereira treina no CT do Time Brasil, no Rio, em busca da vaga olímpica no judô para os Jogos de Tóquio Foto: Rafael Bello/COB

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"Elas terão boas chances de subir no ranking, pois haverá o Mundial em Budapeste, o Pan em Córdoba e os Grand Slams de Tel Aviv, Paris, Tbilisi, Antalya e Tashkent. Se somar os pontos desses eventos, pode-se conseguir até 7.700 pontos", explica Ney Wilson, lembrando que as duas praticamente não têm pontos a descartar, então tudo que vier é lucro.

Ketelyn está com 1.045 pontos enquanto Jéssica tem 630. Só pode ir uma judoca por país para a Olimpíada em cada categoria. E, para isso, ela precisará estar entre as 18 mais bem colocadas no ranking olímpico. A estimativa é que com 2.200 pontos consiga a vaga, que seria importante porque a categoria até 57 kg também é usada para compor a equipe mista, nova prova do judô que fará sua estreia olímpica em Tóquio.

"Eu lamento pelo o queaconteceu com a Rafaela, mas como disse fica essa vaga aberta. Então acredito que não só tenho condições como também estou preparada para esta vaga. É algo que todo atleta almeja e treina para alcançar. Sabemos que o trajeto é árduo ainda mais para um curto período de tempo", afirmou Ketleyn.

A judoca lembra que sua estratégia nesse momento será ir para todas as competições possíveis do calendário. "Quero conhecer minhas adversárias e subir o máximo de vezes ao pódio, pois estou precisando de muitos pontos", continuou a atleta do Clube Pinheiros.

Ketelyn Nascimento durante oGrand Slam de Judô em Brasília Foto: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

Jéssica, por sua vez, é do Instituto Reação, o mesmo de Rafaela Silva. "Tenho me preparado da melhor maneira possível para conseguir a vaga nessa categoria que sempre foi muito bem representada por ela. Tenho treinado bastante e acredito que tenho totais condições em ter bons resultados e atingir o objetivo maior que é disputar a Olimpíada", disse.

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Além do treino pesado, ela tem aproveitado para estudar bastante as lutas para conhecer melhor suas adversárias. "Elas também não me conhecem pois sou nova na categoria e vejo isso como algo positivo porque posso surpreender. Além disso tenho feito muito treinamento técnico, simulação de lutas e randori. Acredito que se eu estiver no pódio em três competições já estarei bem próxima da classificação", avisou.

A chance para elas apareceu após Rafaela Silva ter sido punida porque seu exame realizado nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, detectou a presença de um metabólito de fenoterol, remédio usado para tratar problemas respiratórios, como asma e pneumonia. Por ter efeito broncodilatador, o medicamento pode trazer benefícios na performance do atleta e por isso é uma substância proibida pela Agência Mundial Antidoping (Wada) tanto durante quanto fora de competições.

O gancho da judoca vai até novembro deste ano, então com isso ela não poderá defender o título olímpico conquistado nos Jogos do Rio, em 2016. "A gente está falando de uma campeã olímpica, qualquer equipe do mundo sentiria falta. Ela era séria candidata à medalha e ainda reforçaria a equipe como um todo. Em Tóquio será o primeiro ano da competição por equipe mista e ela seria um reforço muito grande", lembra Ney Wilson.

Ele reforça que o judô é um esporte individual, mas também coletivo, pois os atletas precisam treinar entre si. Só que a punição de Rafaela não permite que ela tenha qualquer contato com os outros atletas da seleção, muito menos treinar junto. "A perda dela é sentida por todos os atletas da equipe. Ela está fragilizada com a situação, pois é uma pessoa extremamente competitiva. O impacto inicial foi muito grande, mas já estamos trabalhando nossos atletas para superar isso. Aliás, o judô te ensina a cair e levantar", conclui Ney Wilson.

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