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(Viramundo) Esportes daqui e dali

Astro pop das piscinas

Por Antero Greco
Atualização:

A seleção brasileira de futebol finalmente ganhou! Que ótimo, que maravilha! Classificou-se, segue na trilha do ouro, e os 4 a 0 sobre a Dinamarca fizeram Neymar & súditos reerguerem a cabeça. Deveriam voltar de Salvador com fitinhas do Senhor do Bonfim como devoção a adornar punhos tatuados. Como é boa a paz! Se bem que, cá entre nós, cumpriram obrigação, porque ficou feio empatar com Iraque e África do Sul, que por sinal já fizeram as malas e saíram dos Jogos. Além disso, a turma lá do norte da Europa é ruim de bola pra chuchu.

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Futebol à parte, está mais do que na hora de exaltar o imenso, incomensurável, exagerado fenômeno Michael Phelps. Esse rapaz tem uma avidez por recordes sem parâmetros na história das Olimpíadas. E coleciona mais ouro do que o Tio Patinhas, um dos ícones do país dele. Basta cair na piscina e vem marca a superar, e outra medalha dourada no pescoço. Não dá nem ânimo de torcer para os rivais.

Phelps contraria teorias, estudos, suposições, mandingas e crendices. A folhinha do calendário pessoal completou 31 voltas em 30 de junho. Ou seja, trata-se de um veterano, esportista naquela fase da trajetória em que se belisca um resultado satisfatório aqui, um trofeuzinho ali, e se leva a vida no vai da valsa. Se for campeão olímpico – como é o caso –, chama-se a atenção do público pelo currículo e não pelo presente. É pré-aposentadoria; as aparições funcionam como “canja”, aquela palinha rápida e de surpresa de artistas consagrados em shows alheios.

Pois com Phelps isso não cola. Não tem o papo de ex-atleta em atividade – o espetáculo é ele, os holofotes continuam centrados na figura de 1,93 m (envergadura de 2,01 m), que atemoriza os pobres coitados que ousam desafiá-lo. Os mais jovens podem supor que não será tão complicado assim bater o vovô das raias. E tomam coco na cabeça, engolem água, como os desafiantes de Usain Bolt comem poeira nas pistas.

Você se deu conta do que representa Phelps no contexto do maior festival esportivo do planeta? Sem computar as provas desta quinta-feira, o norte-americano grandalhão, que anos atrás comia dúzias de ovos antes das provas, tem 21 ouros, 2 pratas e 2 bronzes.

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Só essas quatro medalhas menos brilhantes fariam a alegria de qualquer nadador normal. Para ele, não; ao contrário, parece que representam uma mancha no currículo. Tem cabimento isso?! Pois ficou aborrecido com algumas delas. E não é nem por ser posudo, esnobe. Mas por perfeccionismo. Coisa de doido, não? Porém, compreensível; gênios têm uma lógica peculiar.

Phelps além de fazer as plateias arregalarem os olhos espanta pela longevidade. A primeira experiência olímpica foi em 2000, em Sydney, então para ganhar cancha. O nome da época era Ian Thorpe, o Tubarão – e o adolescente de 15 anos manteve-se à sombra. Regressou com a bagagem cheia de histórias e (ainda) sem nenhuma medalha.

Daí pra frente todo mundo sabe as proezas que tirou das braçadas. Em Atenas, 2004, guardou 8 medalhas (6 de ouro, duas de bronze), em Pequim, 2008, o auge, com as 8 de ouro (superou as 7 do conterrâneo Mark Spitz, em Munique/72). O tesouro enriqueceu com mais 7 em Londres, 2012 (5 de ouro, duas de prata). E aqui, enquanto batuco estas mal traçadas, são 2 de ouro. Não duvido nada que a contagem da crônica se apresente defasada na hora em que você abrir o jornal. A culpa não será minha, mas do Phelps.

Nesse meio tempo, mostrou faceta humana, ao relaxar em treinos, ao cair na noite, ao ser fotografado fumando cigarro esquisito. Dizem que foi para disfarçar, para expor ao mundo que é igual a todos. Mas não é. Há quem desconfie que o DNA dele apresente vestígios de peixe.

A seleção brasileira de futebol lotou a Fonte Nova, anteontem. Phelps é quem deveria apresentar-se num estádio para 40 mil pessoas, no mínimo. Como nos concertos de astros pops. Porque ele é, digamos, um McCartney das piscinas. Vá lá, um Elvis, já que nasceu nos EUA.

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