Bimba volta à Olimpíada para apagar pesadelo de Atenas

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Por PEDRO FONSECA
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Os treinos intensos custam a Bimba quase mil calorias por hora. As mãos do velejador, marcadas por calos e bolhas, refletem um objetivo: subir ao pódio nos Jogos Olímpicos de Pequim e apagar a frustração de 2004. Ricardo Winicki, ou simplesmente Bimba, é o atual campeão mundial e bi pan-americano de prancha à vela (classe RS:X), títulos que serviram para aliviar a dolorosa perda da medalha olímpica em Atenas. Quatro anos após ter desperdiçado a vantagem de chegar como líder à última regata da Olimpíada e ter ficado em 4o lugar, Bimba se divide entre as águas do Rio de Janeiro e de Búzios em busca da melhor preparação para voltar aos Jogos Olímpicos e tentar mudar o final da história. "Tudo o que vivi em Atenas talvez tenha sido a maior experiência da minha vida. A combinação para eu perder a medalha era muito difícil, mas aconteceu. Realmente não era para eu ganhar", disse Bimba à Reuters, nesta quinta-feira, antes de entrar nas águas da Baía de Guanabara para mais uma sessão de treinamento. Bimba levou bastante tempo para digerir a perda da medalha -- "sonhei com isso durante um ano", disse -- mas deu a volta por cima no Mundial de Portugal, no ano passado. O atleta viveu a mesma situação: ser líder antes da prova final, mas dessa vez o resultado foi outro. "Ganhei o Mundial e provei para mim mesmo que eu era capaz de conquistar um campeonato importante. O único pódio que falta na minha carreira é o olímpico. E ninguém mais do que eu quer esse pódio. Meu objetivo é fazer de tudo para conquistar agora", acrescentou. SOBRE AS ONDAS A prova olímpica de vela, que começa em 9 de agosto, será disputada na cidade de Qingdao, a cerca de 500 km de Pequim. O local não tem boas condições para velejar, com pouco vento e muita ondulação. Bimba, de 28 anos, esteve três vezes na raia olímpica, a última delas em junho, quando quase não pôde treinar devido à neblina e a uma proliferação de algas que causou enormes transtornos aos organizadores. As circunstâncias são desfavoráveis ao brasileiro, um especialista em velocidade e em manobras rápidas que também pratica o windsurf mais radical, sobre as ondas, que não é disputado nas Olimpíadas. "No vento fraco a competição fica nivelada um pouquinho mais por baixo, as manobras não são tão rápidas, então acho que vai ser bem difícil", disse ele, que vê 10 entre os 34 adversário na Olimpíada como concorrentes ao pódio. "Eu não aproveito a minha vantagem. Minhas manobras são muito boas, minha velocidade é muito boa, então quando uma regata tem vento fraquinho, todo mundo anda muito parecido, você não consegue desenvolver, a prancha não chega a planar na água." Para o brasileiro, o foco do treinamento é a parte física e mental, especialmente para um esporte que carrega o peso de ser o maior vencedor de medalhas olímpicas na história do Brasil, com 14, sendo 6 de ouro. "É um treinamento bem específico para essa condição que cansa muito, a mão fica bastante doida, com bastante calo, bastante bolha, é uma média de três horas na água por dia", afirmou o velejador. Desde novembro, Bimba está dedicado exclusivamente à Olimpíada. O velejador treina numa equipe multinacional com um português, um mexicano e um espanhol, todos classificados para Pequim, e disputou apenas duas competições este ano, venceu uma e ficou em 2o na outra. Seu maior amigo no esporte é o português João Rodrigues, de 36 anos, atual vice-campeão do mundo, de quem Bimba se aproximou no início da carreira devido à facilidade do idioma. Segundo o velejador, é melhor treinado com rivais de outros países do que com outros brasileiros, já que cada país só tem uma vaga nos Jogos Olímpicos. "Prefiro muito mais treinar com um cara que esteja competindo comigo diretamente na Olimpíada do que com alguém que quer me tirar da Olimpíada", disse. "Com o português, vamos os dois para Olimpíada, e se for eu ouro e ele prata, ou vice-versa, ficamos os dois amarradões", disse ele.

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