Boulevard Olímpico lota em dia dedicado a lazer

Nova área do Rio de Janeiro foi construída a partir da revitalização da região portuária

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Por Ubiratan Brasil
4 min de leitura

Eram 11 horas da manhã deste domingo, na Praça XV, centro do Rio, quando uma voz muito animada vinda de um telão espalhava o convite: “Prepare sua torcida. Mais alguns minutos e começa o jogo de vôlei masculino entre Brasil e México!” Nenhuma empolgação, nenhum grito de “u-hu”. “Adoro vôlei, mas o dia hoje é para passear”, comentou Alberto Alencar, estudante, 17 anos, ignorando a pequena arquibancada diante do telão que, aliás, estava vazia. Sol a pino, 33 graus, mesmo o mais fanático torcedor preferiu visitar o novo point carioca, o Boulevard Olímpico, enorme área de convivência construída a partir da revitalização da região portuária, entre a Praça XV e os galpões além da Praça Mauá, somando quase um quilômetro.

Como a ventania que castigou a zona sul se transformou ali em uma brisa agradável, o negócio era curtir. Uma vontade tamanha que ninguém parece se importar em ficar numa fila. E tem fila para tudo: para tirar foto ao lado do símbolo da Olimpíada do Rio ou fazer pose em cima de um skate gigante. Do posto de distribuição de mapas da cidade, veio uma dica sobre a procedência do público: os folhetos em português se esgotaram, sobrando apenas uns poucos em inglês e muitos em espanhol.

Torcedores comemoram em frente aos anéis olímpicos Foto: FABIO MOTTA | ESTADÃO CONTEÚDO

Assim, os brasileiros e sua indestrutível animação eram um prato cheio para repórteres estrangeiros e suas matérias de comportamento. A atendente Fabíola Andrada, por exemplo, foi puxada por uma amiga para dar entrevista a uma rede de TV japonesa. “Você fala inglês, vai lá”, justificou a dublê de empresária. “Não falo inglês, só francês”, esnobou a morena que, mesmo assim, se deixou filmar – até porque o inglês da repórter nipônica não era nada extraordinário.

Já foi dito aqui que as pessoas parecem gostar de filas? Bem, elas continuaram no caminho, longas, sinuosas, animadas. Ninguém gosta, mas não parece doer tanto. As pessoas que esperavam para posar em cima do skate gigante, por exemplo, se divertiam com um rapaz visivelmente embriagado, que passeava ao redor, cantando desafinado e que, de dois em dois minutos, enchia o copo com um líquido incolor que o deixava mais animado. Vestia ainda uma camiseta que chamava atenção – no peito, em letras garrafais, estava escrito: “Fora, Temer Golpista”.

Fabíola, aquela que engana bem no inglês, logo seguiu com as amigas no caminho rumo à Praça Mauá. O espaço agora era mais apertado, afunilando as pessoas e retardando o passo. Não foi preciso andar muito porque, diante do Tribunal Marítimo, uma banda alegrava o ambiente tocando frevo. O grupo agradou, pois a caixa do violino estava recheada de notas de R$ 2 e R$ 10. Dali, dava para ver outra fila, agora para ver uma enorme maquete do Rio de Janeiro. “A vista do Cristo Redentor é melhor”, disse uma mulher, sem esconder o despeito, ao perceber o extensão da fila.

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Para quem não queria ficar parado, o melhor era continuar a caminhada e aumentar o arquivo de fotos – afinal, não é toda hora que se pode fotografar o enorme helicóptero da Marinha estacionado como um Cadillac a poucos metros do portão de entrada. Poucos cliques bastaram, no entanto, pois, a poucos metros dali surgia iluminado o novo point temporário da cidade: a pira com o fogo olímpico. Impossível não entrar em uma disputa de ombros para se conseguir a vista ideal, com a pira à direita e, um pouco mais ao fundo, a imponente Igreja da Candelária. Nem o calor (agora com 35 graus) afastava a pequena multidão.

O melhor, porém, estava por vir: a Praça Mauá. Revitalizada, convidativa, com o Museu do Amanhã em um extremo, beijando a água do mar, e o Museu de Arte do Rio (MAR), no outro, na escolta. Entre um e outro, um enorme espaço aberto, com a réplica do 14-Bis e a estátua do Visconde de Mauá no centro, espécie de marco zero. Dois telões exibiam o jogo de vôlei, mas ninguém parecia se importar – para piorar, o Brasil tinha perdido o primeiro set para o México e suava para vencer o segundo.

“Isso tudo é muito lindo, mas podiam ter pensado em mais espaço para as pessoas”, reclamou o americano Keith Smalls, com a autoridade quem soma agora seis olimpíadas (a primeira foi Atlanta, 1996). “Os organizadores tiveram tempo e parece que não esperavam tanta gente”, completou ele, apontando Pequim/2008 como a mais bem planejada.

Para quem desfruta de seus primeiros jogos, porém, a felicidade parece infinita. “A olimpíada fez bem para a cidade e para o ânimo do carioca”, atesta a atriz e artista plástica Analu Prestes, enquanto admirava o enorme mural pintado por Eduardo Kobra.

Distante dali, no Parque Olímpico, também havia filas – para entrar, para pagar preços absurdos por bebidas (R$ 8 a cerveja e R$ 10 o refrigerante) ou para posar diante dos anéis olímpicos, disparado o mais buscado endereço esportivo da cidade. Mesmo com ingresso para as competições, as pessoas queriam mesmo era desfrutar do espaço aberto.