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Ciclo olímpico brasileiro teve investimento de R$ 950 milhões do COB e recordes em Tóquio

O dinheiro aplicado nos últimos cinco anos ajudou o Time Brasil a alcançar maior número de medalhas; mesmo a despeito da queda no Bolsa Atleta de 17% em seu orçamento total durante o ciclo 2017-2021 em relação ao período anterior

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Foto do author Raphael Ramos
Por Paulo Favero , Raphael Ramos e enviados especiais/TÓQUIO
Atualização:

Com investimento de R$ 950 milhões no ciclo olímpico estendido por causa da pandemia, de quatro para cinco anos (2017-2021), o Brasil bateu todos os recordes possíveis nos Jogos de Tóquio, terminando o evento na 12ª colocação geral. Ganhou mais medalhas na soma geral do que as 19 do Rio, em 2016 — sete ouros, seis pratas e oito bronzes —, as atletas mulheres subiram ao pódio mais vezes do que as sete em Pequim-2008 e a quantidade de medalhas de ouro já havia sido igualada um dia antes do fim da Olimpíada: sete, como no Rio.

O Comitê Olímpico do Brasil (COB) deixa o Japão festejando a façanha e animado com as novas modalidades, como surfe e skate, de modo a ter planos ambiciosos vislumbrando a edição de Paris, daqui a três anos. O planejamento é de o Time Brasil mudar seu patamar na França e subir mais degraus no quadro de medalhas. Ao lado da Alemanha, em 1972, e da Grã-Bretanha, em 2012, o Brasil melhora seu desempenho depois de sediar uma edição olímpica. Não costuma ser assim. 

Ciclo olímpico brasileiro teve bom investimento e recordes em Tóquio. Foto: Patrick B. Kraemer/EFE

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Ao dinheiro investido da Lei Piva, Bolsa Atleta (governo) e patrocinadores, junta-se o talento de atletas dessas modalidades debutantes, cujos competidores são jovens, acima da média e com pelo menos mais dois ciclos olímpicos para cumprir, Paris e Los Angeles, em 2028.

Aos R$ 800 milhões anunciados em 2017 para a formação e preparação dos atletas, o COB teve aporte de mais R$ 150 milhões das loterias para manter os competidores em ação por mais um ano após o Comitê Olímpico Internacional (COI) ter de adiar a disputa de 2020 para 2021 por causa da covid-19.

Se tivesse ficado nos R$ 800 milhões, o Brasil teria gasto perto do aporte feito para a edição de Londres, cujo montante destinado ao COB atingiu R$ 770 milhões. A verba só foi maior na Rio-2016, quando os gastos bateram em R$ 1,9 bi - por ser o país-sede e ter participado de todas as modalidades do programa olímpico. 

“Reestruturamos algumas áreas do COB, renegociamos contratos e tivemos um contingenciamento que é saudável e que nos ajudou a não sofrer grandes problemas. Cortamos gastos em outras áreas (R$ 43 milhões), mas o foco nunca deixou de ser a preparação dos atletas. Isso nós nunca mudamos”, disse o presidente do COB, Wanderley Teixeira, antes dos pódios em Tóquio.

Poderia ter sido melhor. O programa do governo do Bolsa Atleta sofreu queda de 17% em seu orçamento total durante o ciclo olímpico 2017-2021 em relação ao período anterior. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde a criação do programa federal, em 2005. O ciclo olímpico é o período que corresponde aos anos decorridos entre os Jogos Olímpicos. No caso, a redução ocorreu da Rio-2016 para Tóquio-2020.  De acordo com dados obtidos pelo Estadão via Lei de Acesso à Informação (LAI) do Ministério da Cidadania, no ciclo olímpico de Tóquio, apesar de ter um ano a mais na contabilização do orçamento em função do adiamento por causa da pandemia, o montante total destinado ao programa foi de R$ 530,4 milhões, contra os R$ 641,1 milhões do ciclo referente ao Jogos do Rio (2013-2016). O ano de 2020 foi o que sofreu maior impacto, com 274 bolsas concedidas – o ano anterior teve 6651 contemplados.

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Ciclo olímpico brasileiro teve bom investimento e recordes em Tóquio. Foto: Jonne Roriz/COB

Dois dos novos esportes que integraram o programa olímpico confirmaram no Japão as expectativas e contribuíram bastante para o Brasil saltar no quadro de medalhas. Graças ao ouro no surfe e às três medalhas de prata no skate, a delegação nacional alcançou a maior campanha de sua história, superando as 19 medalhas da Rio-2016.

“O desempenho foi muito bom. Dos 12 atletas que vieram para cá, três subiram ao pódio. É um resultado excelente”, diz Eduardo Musa, presidente da Confederação Brasileira de Skate (CBSk). Para o novo ciclo olímpico é certo que a modalidade terá maior investimento. Isso ainda não está definido, mas o COB tem apostado em modalidades com potencial. O Comitê passa a monitorar mais, oferecer melhores condições e até pensar em treinadores mais bem preparados, alguns até do exterior, como teve o canoísta Isaquias Queiroz, ouro na prova individual do C1 1000m.

O skate obteve três pratas com Kelvin Hoefler, Rayssa Leal (ambos no street) e Pedro Barros (park). Existia a expectativa de ouro, principalmente com Pâmela Rosa ou Leticia Bufoni, mas elas não conseguiram. Pâmela competiu machucada. 

Quem também teve chance de ser bronze foi Luizinho Francisco. Ele fez uma última volta de alto nível, mas os juízes não lhe deram os pontos necessários. Eles devem em Paris.

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No surfe, quem levou o ouro foi Italo Ferreira. Gabriel Medina chegou perto, foi bem em toda a competição, mas perdeu na semifinal em bateria apertada e caiu na disputa pelo bronze. “É uma conquista incrível para a minha carreira, mas no pessoal é ainda mais importante: posso olhar para trás, ver da onde vim, com quem cresci, aqueles que estavam ao meu lado e acreditaram em todos os momentos. Acho que a parte mais difícil era lá no passado: acreditar, perseverar, treinar. Hoje só vivo um sonho e tenho de aproveitar”, disse Italo.

Com o bom desempenho das duas modalidades em Tóquio, a expectativa é de que, para Paris, o sucesso continue. “A gente tem um trabalho de base, com pessoas ótimas cuidando disso, e temos muitos skatistas bons. Então, tenho certeza de que o Brasil estará forte em 24 e 28. Quem esteve aqui em Tóquio não terá vida fácil para ir à próxima Olimpíada por causa da qualidade dos atletas”, diz Musa.

O cenário no surfe é parecido. Um dos grandes surfistas do Brasil, Filipe Toledo, ficou como reserva em Tóquio. Sophia, irmã de Gabriel Medina, pode começar a surpreender. 

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Para o presidente da CBSk, o mais importante agora é oferecer estrutura para os atletas e recursos para competir com os melhores do mundo. “A gente precisa continuar levando o maior número de skatistas para as disputas internacionais, dando oportunidade para todos, e acho que esse calendário vai ser muito mais difícil agora.”

LEI PIVA

Em 2020, a Lei Agnelo/Piva (20 anos) destinou ao COB R$ 292,5 milhões, o equivalente a repasses de 1,7% do valor apostado nas loterias federais do País. O COB investiu R$ 60 milhões somente na logística da viagem e o período de aclimatação em Tóquio. Neste ano, foram destinados outros R$ 150 milhões às confederações para treinamento e competições de preparação, R$ 12 milhões para o desenvolvimento das categorias de base e R$ 30 milhões somente naquelas modalidades com mais chances de pódio.

Na divisão do bolo entre as confederações, surfe e skate ficaram com valores mais baixos por serem novas no programa olímpico. A expectativa é que o próximo repasse seja maior. 

Para além disso, as entidades buscam patrocínios. A CBSk acertou um acordo de um ano com a Caixa, até junho de 2022, no valor de R$ 6,4 milhões. “Nossa situação financeira é boa no sentido de poder dar estrutura. 

Esporte em alto nível se faz com dinheiro. A gente fez uma viagem antes da Olimpíada quando o dólar estava custando R$ 5,30. São mais de 20 pessoas, nos EUA, por 30 dias. Sai caro. Não podemos ficar na fantasia de que o dom e o talento vão resolver tudo. A gente precisa de estrutura. Porém, nossa administração é segura”, reconhece o dirigente do skate. 

O pensamento vale para todas as modalidades esportivas. Os nadadores do Brasil já comentaram em anos passados que eles deveriam competir nas provas americanas, contra os nadadores dos EUA. Bruno Fratus fez isso. Ele foi bronze em Tóquio na prova dos 50m livre. Amanhã, o novo ciclo começa.

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