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'COI coloca nossa saúde em perigo', diz campeã olímpica

A grega Katerina Stefanidi, medalha de ouro no salto com vara, pede a criação de um plano B para que os Jogos não ocorram na data prevista, 24 de julho

Por Karolos Grohmann
Atualização:

O Comitê Olímpico Internacional (COI) está colocando a saúde de atletas de elite em risco ao afirmar que eles devem continuar treinando para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 em meio ao avanço da pandemia de coronavírus, afirmou à Reuters nesta terça-feira a atual campeã olímpica do salto com vara, Katerina Stefanidi.

"Não há adiamento, não há cancelamento. Mas (o COI) está nos colocando em risco", disse a grega em uma entrevista exclusiva para a agência. "Todos nós queremos que os Jogos de Tóquio aconteçam, mas qual é o plano B se isso não ocorrer? Saber sobre uma possível opção tem um grande efeito no meu treinamento, pois posso estar assumindo riscos agora que eu não assumiria se soubesse que também há a possibilidade de um plano B", acrescentou Stefanidi.

Katerina Stefanidi pede plano B para a realização dos Jogos Olímpicos Foto: Ibraheem Al Omari/Reuters

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Ela não fala em nome dos atletas olímpicos. "Precisamos decidir se arriscamos a nossa saúde e continuamos treinando no atual ambiente", ressalta. O COI não respondeu de imediato a um pedido por comentários. A fala de Stefanidi recebeu o apoio da britânica Katarina Johnson-Thompson, campeã mundial de heptatlo, que disse que está retornando para casa após passar por isolamento (lockdown) na França e que se sente sob pressão para treinar.

"O aviso do COI encoraja atletas a continuar se preparando para os Jogos Olímpicos da melhor maneira possível, com a Olimpíada a apenas quatro meses de distância, mas as legislações governamentais forçam o isolamento em casa, com pistas, academias e espaços públicos fechados", escreveu ela no Twitter. "Eu me sinto sob pressão para treinar e continuar na mesma rotina, o que é impossível."

O COI irá promover uma teleconferência com os Comitês Olímpicos Nacionais na quarta-feira. Mais cedo já havia reiterado seu comprometimento com a realização dos Jogos na capital japonesa entre os dias 24 de julho e 9 de agosto, pedindo que atletas continuem treinando apesar das crescentes especulações sobre o impacto do vírus aos Jogos. "O COI continua completamente comprometido com os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, e com mais de quatro meses restantes até os Jogos, não há a necessidade de se tomar decisões drásticas neste momento", infomou a entidade em nota. 

Desde janeiro até agora a situação se deteriorou dramaticamente, e no mesmo período o COI apenas repetiu as mesmas coisas

Katerina Stefani, grega, campeã olímpica do salto com vara

Riscos de saúde

"Qualquer especulação neste momento seria contraprodutiva", acrescentou o COI, menos de uma hora depois de a entidade que comanda o futebol europeu, a Uefa, adiar a edição de 2020 da Eurocopa para 2021. A grega Stefanidi, membro da Comissão Mundial de Atletismo, não se impressionou. "Desde janeiro até agora a situação se deteriorou dramaticamente, e no mesmo período o COI apenas repetiu as mesmas coisas", disse.

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O coronavírus, que até este momento infectou quase 200 mil pessoas no mundo todo, matando mais de 7.500, forçou vários países ao isolamento, visando conter a propagação da doença. A Grécia já reportou 387 casos do Covid-19, incluindo cinco mortes, e o governo ordenou o fechamento de todos os comércios varejistas do país, com algumas exceções, a partir de quarta-feira. Todas as instalações esportivas foram fechadas por uma semana.

A Grécia também fechará suas fronteiras para qualquer indivíduo que não seja grego ou residente da União Europeia, a não ser que a pessoa tenha uma licença especial. "O COI nos colocou em uma posição difícil. Como podemos treinar nessas condições, com esses riscos de saúde?", questionou Stefanidi, que também é candidata para a comissão de atletas do COI nas eleições marcadas para os Jogos de Tóquio.

"Os estádios estão fechados há uma semana. Nesta quarta pode ser que consigamos uma autorização especial para entrar e treinar. Mas como treinar ali, tocando os mesmos equipamentos e superfícies? E o que dizer dos esportes em equipe, ou da ginástica, ou da natação?", disse. "Eu gostaria de ver que existe uma preocupação pelo risco à nossa saúde. É bom dizer que em quatro meses tudo estará bem. Mas e sobre agora? Eu quero ver o que eles vão fazer sobre agora. Eu quero ouvir sobre um plano B", acrescentou.

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