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COLUNA-A perfeição, a todo custo. E a força das brasileiras

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Por Denise Mirás
Atualização:

Quando todos esperavam uma Olimpíada de Pequim marcada pela alta tecnologia -- os próprios chineses chamaram seus Jogos de "hi-tec" --, um outro aspecto se sobrepôs a ela, abrindo margem para discussão e reflexão: a possibilidade de situações e imagens serem manipuladas, e encarando-se isso com naturalidade. Um dos momentos mais expressivos da cerimônia de abertura foram as "pegadas gigantes" saindo do sul da cidade, rumo ao Estádio Ninho do Pássaro, feitas com fogos de artifício -- e que, na verdade, foram pré-gravadas e então "acrescentadas" na apresentação ao vivo, para todo o planeta. Já há alguns anos os publicitários descobriram o esporte como "última reserva" de emoções verdadeiras, e imagens capturadas de rostos em agonia durante corridas, ou na luta por pontos, ou em esforço máximo, em celebrações e choros sentidos, passaram a fazer parte do arsenal da propaganda. Mas os chineses dominaram a arte de manipular situações para encaixá-las em seu padrão de perfeito. E assim foi. Como se viu desde a tão recriminada substituição da minicantora, com voz colocada no playback, por outra mais "apresentável", na dublagem de uma canção. Ou com a revelação de que as garotas das cerimônias de pódio precisavam ter medidas-padrão de rosto -- até com determinada relação de distância da boca em relação às pupilas. E que seu sorriso precisava mostrar exatamente oito dentes, com abertura das arcadas de menos de um centímetro (na verdade, da largura de hashis -- os "pauzinhos" para se pegar a comida --, seguros pela mordida treinada durante meses). Também se pode lembrar da tentativa de controlar a chuva, do arrasa-quarteirão que deu lugar a estádios e arenas, do sumiço de manifestantes. E também do doping, que em última instância tenta enganar os espectadores -- e por tabela, também patrocinadores e anunciantes. Alguns foram pegos, mas notícias dão conta de que o doping genético já está aí, com genes de células manipulados para que o corpo produza seu "autodoping". A NBC, rede de TV norte-americana, há anos já sacrifica transmissões ao vivo, e grava teipes para que o público assista às competições na hora que mais convier aos anunciantes... Com Pequim, terá a China antecipado uma era olímpica onde também as disputas e jogos poderão ter imagens manipuladas, recortadas e re-arrumadas, de acordo com interesses diversos? Os chineses brincaram com as manipulações e cutucaram algo que pode se tornar perigoso para o movimento olímpico e mesmo para anunciantes: a boa-fé do público. FORçA FEMININA Já se avizinhava uma demonstração maior de força feminina de chegada, por parte das brasileiras. E também assim foi, com algumas falhas esperadas, algumas boas surpresas e com medalhas conquistadas. Se a ginástica feminina poderia ter conseguido apresentações melhores, o atletismo confirmou a disposição de Maurren Maggi, quando retornou aos treinos já mostrando seu privilégio genético depois de vários meses parada, e o resultado de um trabalho duro, com os técnicos Nélio e Tânia Moura, para chegar ao ouro. Fabiana Murer protagonizou uma das cenas mais absurdas, passando da concentração total ao desespero, pelo sumiço de uma das varas para a prova de salto, e não pôde mostrar a performance que tinha lhe valido a terceira marca da temporada. A seleção feminina de futebol mostrou o quanto é forte e sabe jogar bonito, seguindo no entanto no patamar da prata. Enquanto isso, as garotas da classe 470 da vela comemoravam tanto, que Fernanda Oliveira (que correu com a proeira Isabel Swan) até se confundiu, chamando de ouro a medalha que era de bronze. Nas lutas, literalmente, o judô revelou o rosto de uma determinada Ketleyn Quadros (até 57kg), bronze olímpico aos 20 anos. E o taekwondo, a determinação de Natália Falavigna (mais de 67kg) na conquista do bronze, sem ter passado à final por decisão da arbitragem. Mas, acima de tudo, de Pequim ficou a imagem da alegria pelo ouro, por parte das jogadoras da seleção de vôlei, sob a orientação do técnico José Roberto Guimarães (que tem ao lado o preciosíssimo trabalho do preparador físico José Elias de Proença). Ficou o ouro para a levantadora Fofão, assim apelidada ainda juvenil pelo próprio Zé Roberto, rainha finalmente coroada, aos 38 anos.

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