COLUNA-Sem desculpas. Abstrair expectativa é o segredo

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Por Camila Moreira
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Qual a diferença entre a glória da medalha de ouro e a decepção de um sexto lugar? Entre treinos e competições preparatórias, pode ser a capacidade de abstrair o que o resto do mundo fala sobre você. Esse parece ser o segredo do multicampeão e herói olímpico Michael Phelps, que conquistou oito medalhas de ouro nos Jogos de Pequim e tornou-se o detentor do maior número de títulos em uma só edição dos Jogos. As imagens dele sentado na cadeira da sala de espera antes de uma prova com o rosto abaixado e ouvindo hip hop e rap pode parecer frieza, mas é apenas um sinal de concentração. Durante toda a sua hercúlea campanha, ele não perdeu o foco e só pensava em dormir e comer entre uma ida e outra ao Cubo d'Água. Missão cumprida, tudo que ele queria era abraçar a mãe. "Uma série de coisas faz dele o nadador que ele é, mas acho que é principalmente psicológico. Ele consegue relaxar e se concentrar no que está fazendo quando está sob pressão e, na verdade, esse tipo de ambiente faz ele ter uma performance melhor", contou o técnico do norte-americano, Bob Bowman. Em contrapartida, a ginástica brasileira explodia de tensão, deixando-se influenciar pelo que vinha do Brasil. "Nossa, fico bem feliz que acabou, porque eu já estava com o coração explodindo aqui, de nervoso, expectativa, não só minha, de todo mundo. Você sofre não só com você, mas com os outros também", resumiu Jade Barbosa. E as imagens de Diego Hypólito pedindo desculpas aos torcedores brasileiros depois de terminar em sexto no solo deixa isso claro. Bicampeão mundial e favorito ao ouro no solo, Diego entrou confiante no tablado e iniciou uma série irretocável, mas uma queda na conclusão custou a ele a prata e provavelmente o ouro. Ele saiu chocado com si mesmo, repetindo apenas "não acredito, não acredito". Sentir-se arrasado por perder uma chance de medalha é natural, anormal seria o contrário. Mas perder também faz parte do esporte e superar uma decepção e conseguir voltar é o que faz de alguém um atleta olímpico. Diego tem capacidade, idade e todas as condições para isso. É claro que havia expectativas. O Brasil não é como a China ou os Estados Unidos, que conquistam chuvas de medalhas a cada dia. Cada uma conquistada por um brasileiro é muito comemorada e chegar a uma Olimpíada carregando o título de campeão mundial aumenta essa expectativa. Mas, mais do que o salto, Diego errou ao pedir desculpas, deixando claro que deixou o fator pressão entrar no tablado com ele. Saltos e piruetas ele pode treinar milhares de vezes. Criar uma nova série e voltar com chances de ouro também. Resta agora ele treinar o lado psicológico e aprender a lidar com as expectativas.

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