Publicidade

Com as portas olímpicas abertas, skatista de 14 anos entra em um novo mundo

Quando o Comitê Olímpico Internacional decidiu admitir o skate sem estabelecer requisitos de idade, o jogo mudou para muitas meninas

PUBLICIDADE

Por Scott Cacciola
Atualização:

Kendra Long, uma skatista que acaba de completar 14 anos, faz miséria na pequena pista de Vidor, uma cidadezinha da zona rural do sudeste do Texas. Kendra tem 1,67m e longos cabelos loiros que não param quietos enquanto ela se contorce e flutua em spins e soars. Até os cavalos da vizinhança se juntam na cerca para vê-la.

Até pouco tempo, Kendra tinha os mesmos sonhos típicos dos companheiros do esporte radical: melhorar o desempenho para competir em alguns eventos mais modestos, talvez os X Games ou o Dew Tour. Mas seus cálculos mudaram quando o Comitê Olímpico Internacional anunciou em 2016 que o skate estrearia nos Jogos de Tóquio de 2020. Não só isso: como na ginástica, não há exigência de idade mínima.

Kendra Long e seu pai, Donald, em Vidor, no Texas Foto: Kalifa/The New York Times

PUBLICIDADE

Enquanto os adultos dominam no skate masculino, as garotas avançam no feminino. A decisão do COI alterou suas vidas. Jovens atletas como Kendra vasculham o globo à procura de competições mais importantes. “Eu fazia só por diversão. Ainda me divirto, mas a coisa agora ficou mais séria”, diz ela.

Kendra não está sozinha. No momento, não há uma skatista no planeta mais ocupada que a brasileira Rayssa Leal, de 11 anos, cujos vídeos com manobras radicais viralizaram. Ela tem 480 mil seguidores no Instagram e aspirações a uma medalha em Tóquio. “Rayssa é ótima”, concede Kendra.

Em julho, num torneio em Los Angeles, Rayssa e Kendra competiram lado a lado com profissionais como a americana Alexis Sablone, de 33 anos, que ajudou a Converse a desenhar os próprios tênis, e a canadense Annie Guglia, de 29, que saiu da aposentadoria ao saber que o skate estaria na Olimpíada.

Na competição, Rayssa era tão pequenininha em comparação com as outras que aparecia estar numa prancha de surfe. Foi aplaudida de pé e saiu abraçada com seu troféu de primeiro lugar. Kendra ficou em décimo. Guglia disse que tinha orgulho em admitir que foi “vencida por uma garota de 11 anos”.

A Olimpíada terá duas modalidades de skate: o “de rua”, com obstáculos típicos do desenho urbano, e o “park”, disputado numa pista que permite manobras aéreas. Meses atrás, no Campeonato Mundial de Park Skateboarding, em São Paulo, a japonesa Misugu Okamoto, de 13 anos, levou o título; a britânica Sky Brown, de 11 anos, terminou em terceiro.

Publicidade

Para alguns, os skatistas menores levam vantagem porque têm o centro de gravidade mais baixo,o que facilitaria o equilíbrio. Mas o físico Yung Tae Kim, estudioso do assunto, disse que a principal vantagem dos mais pequenos (e, geralmente mais jovens) é que os skatisas estão começando mais cedo. Como prova de que tamanho (menor) não é documento, ele cita Tony Hawk, um dos maiores skatistas de todos os tempo, que tem 1,82 m.

Kendra diz que ainda não dá para ficar entre as melhores do mundo e acha que a Olimpíada de Verão de Paris de 2024 é uma meta mais realista. Ela está em 30.º no ranking mundial e em 7.º no americano na modalidade “rua”. A mãe, Natalie, diz que a filha é perfeccionista e não para enquanto a manobra não sai como ela quer.

Vidor é uma pequena cidade de pastagens e muita humildade, sem tem tradição de skate. “Quando digo aos conhecidos que sou skatista, eles perguntam se “é a mesma coisa que patinadora”, diz Kendra. Ela começou no caratê (chegou a faixa-preta segundo grau e era conhecida como “A Máquina”), mas logo mudou para o skate. Ela participou da primeira competição internacional no Empire Open de Montreal. Ficou em quarto lugar. Tinha 12 anos.

Kendra Long na casa da sua família, em Vidor, no Texas Foto: Tamir Kalifa/The New York Times

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Com a Olimpíada, vêm novos desafios – e custos. Para Kendra e família, isso significa ter que viajar para Londres, Rio, Los Angeles. Kendra recebe da Nike Skateboarding um par de tênis a cada três meses. A Autonomy lhe dá as pranchas. Kendra não recebe nenhum pagamento em dinheiro. Seus pais têm que batalhar a grana das viagens (cada viagem para competir custa entre US$ 4 mil e US$ 8 mil). “O sonho olímpico não sai barato”, resigna-se a mãe, Natalie.

Apesar das altas metas de Kendra, seus pais esperam ela tenha uma vida mais equilibrada. “No ano passado, ela perdeu 41 dias de aula”, diz Natalie. “Não quero que ela pare de sair com os amigos. Não quero que o skate se torne um peso. É para ser algo divertido.” Mas, embora o skate não seja sempre sua prioridade, Kendra às vezes gostaria que fosse. Recentemente, ao voltar de uma competição na China, ela se queixou: “Tenho tanta lição de casa para fazer...”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.