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Crise do Brasil faz federações reduzirem expectativas sobre Rio

Integrantes do COI reclamam da falta de recursos, atrasos, baixa venda de ingressos e ainda da incerteza política

Por Jamil Chade e correspondente na Suíça
Atualização:

Faltando dois meses para os Jogos do Rio, as federações esportivas estrangeiras pressionam os organizadores brasileiros, ao mesmo tempo que são orientadas a reduzir suas expectativas sobre o evento diante da crise econômica e política que atravessa o País. 

Nesta quinta-feira, dirigentes e políticos brasileiros apresentaram ao COI o que tem sido feito para corrigir atrasos e a falta de recursos. O encontro, porém, deixou claro que o evento no Rio está sendo marcado pela falta de recursos, os atrasos em obras, a falta de data para a abertura do Velódromo, a recusa em aceitar pedidos de federações, a incerteza política, a venda de ingressos abaixo do esperado e até as suspeitas sobre o zika. Faltando dois meses para a Olimpíada, os dirigentes são alertados de que simplesmente suas exigências e expectativas terão de mudar.

Presidente do COI, Thomas Bach, conversa com o vice Craig Reedie em Lausanne Foto: FABRICE COFFRINI|AFP

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"O Brasil passou de ser um país que até encontrou petróleo e que tudo dava certo para a um país que deu tudo errado", admitiu Craig Reedie, um dos vice-presidentes do COI e que não deixa de elogiar o trabalho do Comitê Organizador. 

Por vídeo-conferência, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, tentou dar garantias de que o presidente interino, Michel Temer, está comprometido com o evento e que, por serem do mesmo partido, a coordenação entre o governo federal e o municipal é maior. "Paes nos disse que Temer é seu amigo e que dará prioridade ao evento", contou um dos vice-presidente do COI, John Coates, ao Estado. 

Mas as desconfianças persistem. Reedie indicou que o presidente do COI, Thomas Bach, terá um encontro com Temer no dia 16 de junho justamente para garantir que o processo do impeachment de Dilma Rousseff não afete o evento. 

O encontro ainda foi marcado por uma pressão da entidade internacional, diante de atrasos e de problemas ainda a serem resolvidos. Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Rio 2016, deu garantias ao COI de que o velódromo estará em pleno funcionamento ao final de junho, meses depois da previsão inicial. Por enquanto, porém, não existe um evento teste marcado e a União Internacional de Ciclismo se recusou a mandar seus atletas apenas para testar, sem uma competição. Paes também deu garantias de que o local estará pronto no fim do mês, depois que trocou de empresa que liderava a obra. 

As instalações ainda da esgrima, hipismo e tênis precisam de ajustes. "A questão equestre precisa ser resolvida. Está atrasado", cobrou Reedie. 

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Outro ponto foi o orçamento. A Rio-2016 insiste que as contas estão "em equilíbrio". Mas apresentaram dados apontando para riscos nesses próximos dois meses. Para completar, as vendas de ingressos chegaram a apenas 67% da capacidade. 2 milhões de entradas ainda estão disponíveis, o que significa problemas para a receita. No caso dos Jogos Paralímpicos, as vendas apontam para apenas 24% das entradas adquiridas. E isso por conta da decisão da prefeitura do Rio de comprar 500 mil ingressos para o evento.

"Eles ainda trabalham para ter um orçamento equilibrado", disse Mark Adams, porta-voz do COI. "Fiemos muitos esforços e mostramos solidariedade com o povo brasileiro", afirmou, numa referência à decisão do COI em abandonar algumas das exigências.

Nos corredores, dirigentes indicaram ao Estado que, de fato, as diferentes modalidades esportivas e as federações nacionais já foram informados de que não poderão mais esperar que o mesmo nível de exigência deva ser colocado ao que existiu em Pequim em 2008 e Londres 2012. 

Um desses alertas ocorreu há duas semanas, quando as 50 federações olímpicas europeias se reuniram. "Sabemos que, no Brasil, existem problemas econômicos enormes e problemas políticos. Para completar, o País teve a má sorte de ver chegar o zika vírus. Por isso, vamos ao Brasil com uma atitude de ajudar o Brasil e fazer os Jogos serem um sucesso", contou ao Estado o presidente das Associações Olímpicas Europeias, Patrick Joseph Hickey, e membro da cúpula do COI. 

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Ele não esconde que, em 2009 quando o Brasil foi escolhido, a situação era "bem diferente". "Tivemos um encontro entre as federações europeias e falei com os 50 países de que temos de ir ao Brasil com a atitude de ajudar o máximo que podemos", disse. 

Hickey, porém, espera que o "espírito carnavalesco" contamine o evento para compensar pelos problemas. "Os brasileiros são apaixonados pelo esporte", disse. "Espero que o espírito carnavalesco entre e que tenhamos um grande evento", afirmou. "Estive no Brasil há duas semanas e fiquei impressionado com os progressos feitos", disse o dirigente, que faz parte da comissão que acompanha os trabalhos."Será diferente, mas será fantástico", afirmou. 

Para ele, o desafio agora é conseguir "completar todas as obras e testar tudo". "Temos uma equipe completa no Rio para trabalhar com os organizadores", disse. 

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TAJ MAHAL Coates ainda insistiu que não há mais lugar para que o evento no Rio erga palácios e monumentos para o evento e admitiu que será um evento "diferente" de Londres 2012. "Fiquei muito impressionado com as instalações pelo fato de eles não serem um Taj Mahal", afirmou, numa referência ao mausoléu indiano. "São instalações eficientes e é disso que precisamos", disse. 

"Não precisamos de Taj Mahal", afirmou, admitindo que um local com problemas de desenvolvimento não pode erguer palácios. Há dois anos, ele chegou a dizer que o Rio havia sido a pior organização que ele tinha visto.