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De guiar para ser guiado: a história do vencedor da 100ª medalha de ouro do Brasil em Paralimpíadas

Na segunda-feira, Yeltsin Jacques, que tem o nome em homenagem ao ex-presidente russo Boris Yeltsin, venceu a prova 1500 classe T11 (para cegos) no estádio Olímpico de Tóquio

Por Caio Possati
Atualização:

Em uma de suas redes sociais, Yeltsin Jacques aparece em uma foto segurando o violão. Como legenda, ele escolhe um trecho da música “Tente Outra Vez”, de Raul Seixas: “Tente, e não diga que a vitória está perdida, se é de batalhas que se vive a vida!”. Em Tóquio, na disputa da sua segunda Paralimpíada, o corredor de provas de fundo e meio-fundo não deu por perdido nenhuma possível vitória, como sugere a canção. 

Todas as finais em que disputou, Yeltsin cruzou a linha de chegada como campeão paralímpico. A primeira na prova dos 5000m T11 (para deficientes visuais), realizada no último sábado, 28, e depois na disputa de 1.500m pela mesma classe três dias depois. A segunda vitória teve um sabor especial. O ouro do atleta, o seu segundo em Jogos Paralímpicos, foi o centésimo da história do Brasil em Paralimpíadas.

Yeltsin Jacques fez história no Japão ao conquistar o centésimo ouro doBrasil em Paralimpíadas. Foto: Athit Perawongmetha/Reuters

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"Hoje de manhã o Bira (guia) falou isso (que poderia ser a centésima medalha de ouro da história). Isso deu uma motivação a mais. Queria essa conquista por dois motivos. Para subir o Brasil no quadro de medalhas e construir essa história. Tenho que agradecer minha esposa por aguentar nós, minha família por estar sempre apoiando. Só tenho que agradecer mesmo", comemorou o atleta.

Natural de Campo Grande, o sul-mato-grossense Yeltsin Jacques nasceu com baixa visão. Seus pais, que o batizaram em homenagem ao ex-presidente russo Boris Yeltsin, descobriram a deficiência do filho aos seis meses de idade. Foi ainda na infância que ele teve o primeiro contato com os esportes, começando com a natação aos dois anos, e partindo para o judô, aos 12.

Veio de um colega que ele conheceu nos tatames o convite que mudaria a sua trajetória nos esportes. Aos 16 anos, ele aceitou ser o guia em uma corrida que o amigo, cego, queria disputar. 

Depois disso, Yeltsin se curvou ao atletismo e n]ao parou de correr, mesmo sobre pistas de terra, distante das profissionais que ele está acostumado hoje. Quatro anos depois, já estava representando o Brasil em Guadalajara, no México, nos Jogos Parapan-Americanos de 2011.

Das provas no México às pistas de Tóquio são 10 anos. Nessa década, Yeltsin Jacques tornou-se bicampeão Parapan-americano na prova de 1500m, foi campeão em 2015, em Toronto, na prova dos 5000m pela mesma competição, e chegou a subir ao pódio duas vezes em Lyon, no Mundial da França de 2013. Em 2019, no Parapan de Lima, no Peru, Yeltsin viu o ouro escapar na prova dos 5000m depois que o guia, Rafael Santeramo passou mal durante a prova. A dupla acabou ficando com o bronze.

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No ciclo olímpico que se iniciou depois do Rio de Janeiro, Yeltsin cresceu de rendimento. Correu de forma a se tornar o líder do ranking mundial da maratona nos anos de 2018 e 2019, quando foi campeão da prova em Sevilha, na Espanha. Confiante, ele não descarta colocar na agenda correr mais 42 quilômetros nas ruas de Tóquio maratona. Mesmo depois de dois ouros, ele quer escrever mais um capítulo de glória na sua passagem pelo Japão.

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